É inquietante ler a correspondência trocada entre Jorge de Sena e Eduardo Lourenço, ou entre o primeiro e Sophia de Mello Breyner, a acutilância dos raciocínios em acto, a qualidade da elaboração, a língua usada de forma pletórica, o humor, a ironia, a pequena safadeza, o grau de cumplicidade numa ideia de destino literário sem um pingo de vacilação, ou de transigência, e não farejar no horizonte nada de parecido.
Será do buraco do ozono? Do plasma, que nas achata as imagens? Do tempo que nos falta, da memória que perdemos, pulverizada em tanta negociação?
Jorge de Sena foi um autor que recuperei de modo superlativo depois do meu “exílio”, pois os seus dramas passaram a ser os meus, até as rancunes.
Em homenagem à sua verve, aqui deposito uma ironia de outro grande, Joseph Brodsky: «Parece-me que a memória vem a ser um substituto do rabo que perdemos para sempre, no feliz processo de evolução».
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