Leio no facebook do Carlos Alberto Machado:
Coitado, recebeu carta de editora! |
«Um escritor meu amigo propôs a uma editora a publicação de um romance de sua autoria. Fê-lo via e-mail. Passados 3 (três) minutos, um senhor de lá respondeu:
“Boa tarde, Obrigado pelo seu contacto. Não estamos a aceitar originais. Cumprimentos, JM” (sic)
“Ao menos foram rápidos”, disse-me o meu amigo escritor, “nunca houve despacho maior. Parece uma ficção: um gajo leva três meses a empobrecer a si e aos seus até à quarta geração da sua genealogia para escrever a sua noveleta, mete no prego o último ourito da mulher, para irem comemorar o triunfo da palavra FIM, e antes de irem jantar a um rodízio brasileiro, a família em meia-lua assiste ao envio do e-mail para a editora com o futuro a ouro estampado no anexo. E quando regressam do jantar, onde gastaram a massa de uma semana, a editora já tinha respondido: não estamos a aceitar originais.
É caso para perguntar: as editoras vivem de quê, afinal?”»
De facto: podiam ao menos ter lido para em propriedade dizerem que não. Ou então explicarem: estamos com a programação cheia e de momento não há orçamento para o menor improviso. Mas aí colocava-se a questão, e se no manuscrito que não leram, está o livro que lhes faria dar o salto financeiro e manobra para os improvisos? Como é que uma editora responde à cabeça: não estamos a aceitar originais? Uma mercearia pode não aceitar batatas, legumes, pêssegos carecas? Um clube de futebol pode não aceitar golos?
Lembro-me do que me espantou ler nos Cadernos de Lanzarote a ansiedade com que Saramago, quando acabava um livro, ficava, quanto à possibilidade do seu editor não gostar do livro e não o publicar, e de alguns comentários de alívio que tece sobre as respostas positivas aos mesmos por parte de Zeferino. Seria com certeza uma prerrogativa de respeito entre dois homens que se conheciam e estimavam, uma derradeira postura de humildade. Ou esse fundo de incerteza existia, de facto?
É caso para re-perguntar: as editoras vivem de quê, afinal?
E já tive a sensação de me terem recusado à cabeça um livro por ser meu, antes sequer de ser manuseado,
lido. Importava mais a origem que o texto. Coisas humanas. Algo de muito fétido coa o reino da Dinamarca.
lido. Importava mais a origem que o texto. Coisas humanas. Algo de muito fétido coa o reino da Dinamarca.
PS – Para nem tudo ficar mal, dois livros recebidos de que gostei muito: os últimos de Hélder Moura Pereira e de Armando da Silva Carvalhos. Hei-de voltar a eles.
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