QUEM VENDEU LIEDSON? HENENEU?
para o José Flávio Pimentel, do seu amigo benfiquista
1
Heneneu, do século XXI a. C.? Estou impressionado.
Conhecia o longevo quinto faraó da sexta dinastia e já me afligia pensar na cor dos olhos a tal distância.
A apreciadíssima mirra, por exemplo, só conheço de nome. Antes movia desertos, agora é rara, até na rima.
Qual a vantagem de sermos tão antigos? Quem finta a uma tão grande distância?
Vem o naval e dá-nos um bigode, tudo o que é preciso saber.
2
Nos tratados medievais, depois do juízo final, nada já terão para fazer os anjos.
Tu sabias desta, ó Pimentel? Vão sobrecarregar a Segurança Social.
O melhor é retardarmos o juízo.
3
Unha contra unha: a estalada memória da vida; claquete que dissipa atrás de si todas as paisagens.
A pulga do teu cão interceptou por quantos minutos a tua vida?
No irrelevante está o ganho? Na unha que um dia crescerá apesar de ti, re-duziste a natureza (o predatório júbilo da escassez) ao branco informe.
Ou conta, esta gota de sangue?
Esta partícula de sangue vale quantos golos do Liedson?
4
Enclavinham-se em que medronho os sonhos dos cadáveres?
Para que anda um lagarto à cata de moléculas?
5
Glande emaranhada numa estrela que se agachou.
Abrasa que se farta.
Quem vendeu o levezinho? Heneneu?
6
Ver correr uma enfermeira nua entre pinheiros não atiça o fogo?
Não é o peixe a única criatura que sobreviveu a ter engolido a espinha?
Como é que se encara o touro de frente na batalha naval?
7
O escuro morre afogado quando há fogo.
É o grande limite do escuro, isso e ter brônquios que varados por combustão sonham.
No mais é quase perfeito, até na terrífica clareza com que extrai a hulha
dos empates.
8
Em diferido. Com o patrocínio de uma veia que corta o ar.
Venderam o levezinho.
9
O bolo é a filantropia da mosca, como o pólen é a carência do mel,
ou o golo é a anorexia do leão.
10
Encerrem o céu em canários, como em pipas de vinho doce, e em pouco tempo azedará. Mais triste este réquiem sem o levezinho.
11
Quando alguém agarra a cabeça do leão a sua cauda fica triste – juro! -
e, no jardim, o cipreste tapa os olhos. O quê? Venderam também o Heneneu?
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