domingo, 13 de fevereiro de 2011

ARROZ CATARINO: O CARINHO CHINÊS


Já escolheu o chinês que há em si? Daqui a 10 anos, 15
seremos todos chineses 

Enviou-me o Fernando Lima, do semanário Savana, este texto transcrito abaixo, com a sugestão, para ler e meditar:

«Entrevista de um professor chinês de economia, sobre a Europa, o Prof. Kuing
Yaman - que viveu em França:

1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros. Mas, ao mesmo tempo, os europeus
não querem trabalhar. Só três coisas lhes interessam:
lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima dos seus meios. Porque é preciso pagar estes sonhos de miúdos...

2. Os seus industriais deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada.

3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.

4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo. Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.

5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.

6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores.

7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação.  A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do... da China!

8. Dentro de uma ou duas gerações 'nós' (os chineses) iremos ultrapassá-los. Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacas de arroz...

9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os
decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado...

10. Vão (os europeus) direitos a um muro e a alta velocidade...»

... eles já estão ao ataque!
Tudo isto é verdade e é falso, ou seja é um cenário apenas. Mas expliquemos as minhas reservas, depois de muito meditar:

1.A Europa é uma vítima do seu tremendo sucesso. Eis um paradoxo que se transformou num sapo que a Europa deglute a custo. Contudo, desde o Renascimento, a Europa é o continente que mais vezes e mais rapidamente mudou de paradigma. Foi a sua arma. Estamos de novo e de facto atolados numa dessas encruzilhadas históricas, com os lutos, perdas e danos de todas as rupturas mas na véspera de algo… como tem sido apanágio europeu. Pelo menos historicamente a Europa tem conseguido mudar muito mais em menos tempo que a China.

2.A Europa, pela primeira vez na sua História, descobriu que tem um mercado interno, vastíssimo, com quase um bilião de habitantes. Esta é uma vantagem que nunca usou e que agora está à sua disposição. Um mercado assim, apesar do que diz o sr. Kuing não se desmantela numa duas gerações. Pelo contrário, está a dar os primeiros passos, numa outra dimensão, que essa tem, isso sim, custos políticos: a Europa vira-se para dentro.

3.Nenhum continente (com a excepção de um país, o Japão) mostrou a mesma capacidade de regeneração dos tecidos sociais e industriais que a Europa manifestou no século XX. Basta pensar na devastação de duas Guerras Mundiais, num espaço de 50 anos, travadas no seu território. Basta pensar no que a Alemanha se tornou, desde 45, tendo saído em ruínas e da bancarrota da derrota militar. Compare-se o desenvolvimento da Alemanha actual com o desenvolvimento africano, depois dos mesmos anos de independência.  

4.Observa com desdém o sr. Kuing: os europeus só querem ócio, entretenimento e futebol. E esquece-se de que são indústrias poderosíssimas que são depois exportadas para o resto do mundo com um lucro astronómico. Futebol não é produção de alimentos, mas hoje também ingerimos informação, embora o sr. Economista me pareça anoréxico quanto a este aspecto posto não saber que o circo romano foi um factor de “unidade nacional” durante mil anos. Nos EUA por exemplo, o cinema é a segunda indústria, atrás das armas. Não se trata apenas de coçar o escroto, em ócio, diante dum ecrã onde 11 homens andam atrás de uma bola mas de algo muito complexo e que exporta “formas de vida”. E ESTA É A QUESTÃO ESSENCIAL PARA GARANTIR O FUTURO DA EUROPA: EXPORTAR “FORMAS DE VIDA” (- não me interessa agora discutir se isto é correcto ou não).

5. Fala o sr. Kuing como se a China fosse totalmente estanque às dinâmicas sociais. A China para crescer ainda mais terá de se abrir politicamente o que acarretará uma efervescência social e política de grau muito diferente; a qual  trará ao seu território a mesma febre de reivindicação social de que o resto do mundo desenvolvido padece. O inevitável nivelamento por cima das condições sociais e de vidas dos chineses fará implodir o sucesso chinês por dentro, como na Europa. Daqui a 20 anos o Yemen estará cheio de fábricas deslocalizadas de empresas chinesas. 

6.A Europa tem apostado tudo no conhecimento. Onde foi o sr. Kuing, durante anos, buscar o cabedal teórico que lhe permite fazer um diagnóstico tão catastrófico? À França, imagine-se. Esta aposta no conhecimento, a curto prazo trará muitos ganhos - inclusive no sector da energia, o calcanhar de Aquiles europeu. Lembremos a vitória de Pirro que constituiu a astúcia soviética em dotar os astronautas de lápis para usarem no espaço, onde não há gravidade. Os tolos dos americanos gastaram milhões em investigações para perceberem como conseguiriam que a tinta descesse à esfera das esferográficas, no espaço. E essa fortuna gasta numa irrelevância permitiu o salto tecnológico que lhes deu a vitória na Guerra Fria e a liderança em muitos mercados.  

7.A Europa de facto tem uma carga fiscal “bárbara”. O que lhe tem permitido a regulação social, obras públicas, o seu modelo social, único, e que é uma marca civilizacional (um factor simbólico que vale mais do que a maçaroca que gasta) e inúmeras conquistas nos direitos de cada cidadão que não existem em mais nenhum lugar. É por isso que a Europa, em muitos aspectos, é um oásis. Mas claro que, isso, esses deveres que a riqueza também deve comportar, um chinês não pode compreender.

8.Nunca houve alargados momentos históricos sem crises – só na China.

9.Como explica o nobelizado economista indiano, Amartya Sem, em vários livros, a liberdade é mais propícia ao desenvolvimento que a autocracia política porque a liberdade potencia as potencialidades que dependem da imaginação, a qual só respira de forma salutar e em duração em ambientes sem constrangimento.

10.Existem tantos funcionários de Estado a mais na Europa quantos secretários e esbirros do Partido na China, exactamente com os mesmos vícios e ineficiência. Mas o sr. Kuing esquece-se de nos esclarecer como vai a China resolver esse cancro.

11.Quanto à obsessão europeia com a Ecologia nem comento. A China de facto tem mostrado que quer um desenvolvimento acelerado a qualquer preço.

12.Será possível à China mantendo-se dentro da legalidade, e num mundo globalizado, manter uma grande fluência de negócios internacionais sem recorrer ao crédito? Não creio, a não ser que intensifiquem o negócio da droga e outros de má memória.  

13.Há inércias políticas graves que inquinam uma mais rápida mudança das coisas, pois a Europa tem de “negociar” com as suas próprias expectativas um modo de largar parte do lastro de uma certa falácia política e tem de reequilibrar direitos adquiridos e pragmatismo económico. Mas com que candura, a candura dos gulosos (- daqui a uns anos estamos a dar-lhes sacas de arroz, diz ele), julga o sr. Kuing que os europeus não fizeram já o diagnóstico da situação? Devia ser menos ingénuo e pensar no que significa, por exemplo, que grande parte dos países europeus já tenha aumentado a idade da reforma, depois do deslize da Grécia.

A entrevista do sr. Kuing está cheia de frases-efeito que causam grande impacto e impedem que se raciocine fria e analiticamente. O seu cenário é apenas uma hipótese, muitíssimo redutora, e não futurologia garantida.
Esta entrevista fez-me lembrar um hábito dos americanos, relatado por Michel Serres a Bruno Latour: «Dado que conhece bem a América, sabe com que delícia remete a Europa para a época de Pompeia ou para os tempos das catedrais. Uma excelente forma de dizer: hoje em dia, nós avançamos, enquanto vocês mantém os vossos museus. A história fornece assim um belo "efeito de realidade" à autopublicidade»
É este o único objectivo do sr. Kuing: autopublicidade.
A Europa está, mais uma vez, em crise, mas tomara os outros continentes terem crises destas sazonalmente.





Sem comentários:

Enviar um comentário