domingo, 13 de fevereiro de 2011

A PRIMEIRA MULHER QUE EU VI

variante de «O princípio do mundo» de Courbet

A primeira mulher que vi nua foi uma jovem rapariga a ser linchada até à morte
A primeira mulher que vi nua foi uma árvore, danada para a brincadeira
A primeira mulher que vi nua inalei-a, até hoje
A primeira mulher que vi nua foi num semáforo, estava vermelho
A primeira mulher que vi nua chamava-se Alba
A primeira mulher que vi nua trocou-me os botões da camisa
A primeira mulher que vi nua varava distraída uma oliveira, enquanto o marido, reclinado numa manta, lia A Bola
A primeira mulher que vi nua foi de parapente
A primeira mulher que vi nua tinha saído de um exame de geometria descritiva
A primeira mulher que vi nua plantou-me guindastes
A primeira mulher que vi nua era tão pouco plausível que me esqueci
A primeira mulher que vi nua não era a Eva Mendez
A primeira mulher que vi nua fez-me esquecer o pão para a boca
A primeira mulher que vi nua tinha tatuado nos seios, em letras góticas, fuck you
A primeira mulher que vi nua corria veloz para a síntese
Zumbia a primeira mulher que vi nua
A primeira mulher que vi nua tinha um barrete vermelho e lembrava uma tulipa
A primeira mulher que vi nua fez-me pensar que a castração não é o que se pensa
A primeira mulher que vi nua foi no parto da minha filha
A primeira mulher que vi nua andava de tractor
A primeira mulher que vi nua circuncidou-me a alma
A primeira mulher que vi nua foi a minha mais feliz errata
A primeira mulher que vi nua arrotava a tangerina
A primeira mulher que vi nua foi a que me precede no amor que lhe pertence e ainda hoje escalda a minha morte
A primeira mulher que vi nua
A primeira mulher
A primeira
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a primeira frase, a itálico, terrível, é de Michel Serres

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