quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PROMESSAS

càrra
Deus está mortalmente ofendido comigo.
Tolstoi está mortalmente ofendido comigo, há dois anos que não me visita um sonho.
O Mubarak está mortalmente ofendido comigo, só porque não lhe dispensei o meu iPhone Confession.
O meu barbeiro está mortalmente ofendido comigo, desde que lhe confidenciei que ele tem as mãos papudas do Estaline.
Os meus alunos estão mortalmente ofendidos comigo, queixam-se que falto às aulas para ir à caça de raposas.
Não conheço nenhum Viegas que não esteja mortalmente ofendido comigo.
O meu personal training está mortalmente ofendido comigo.
O meu senhorio está mortalmente ofendido comigo, e jura-me juros.
O meu mentor, o tipo que me assediou para a literatura e a quem eu prometera um estilo de mariposa, está mortalmente ofendido comigo.
O meu banco está mortalmente ofendido comigo.
O Amadeu está mortalmente ofendido comigo, mais que o Baptista.
A minha mulher está mortalmente ofendida comigo, pois já vê o canudo em que se enfiaram as férias no Egipto – segundo ela, porque eu ofendi o Mubarak.
O meu fígado, que me pergunta porque tenho eu a mania de que ele é um peixe e que necessita de ser escamado, lança-me uns relances de ofensa mortal.
A Cinthia Fleury, está mortalmente ofendida comigo, há dois anos que se amodorra à cabeceira o seu palácio de setecentas páginas.
A Susana Sousa Dias está mortalmente ofendida comigo, e rejeitou-me como figurante no próximo filme, eu que tinha feito tão bem de Ausente nos anteriores.
Eu estou mais do que mortalmente ofendido comigo, estou em floração e desdém.
Só a minha filha é que tropeçando no que ia a dizer, me abraça e desacerta: gosto tanto de ser teu pai…
A Luna, faz sete anos.
Está bem filha, é hoje que te vou comprar o cavalo.

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