sábado, 26 de março de 2011

O PASSARÃO PATRACAS

Hoje faz anos o Luís Carlos Patraquim.
Um grande poeta e um dos poucos pássaros que conheço, saídos do sul, que degelou em pleno voo:


A VOZ  E O VENTO

com palavras faço a voz
e o vento
de que viajam e são

insistente desejo a lucilar
sobre a pele morna
de girassóis filtrando
teu rosto
seios
paisagem nua de ventre
com palavras a voz do que faço

estes dias infensos
a pendor de gume



REMINISCÊNCIA
às vezes o exílio
é uma árvore aberta
na imponderável noite

e nada espreita
a estrada larga
fonte do olhar

principia como um homem
multidões ao vento
a terra exangue
o grito arável



CANÇÃO

Para a Paula
  
chegarei com as árvores
meu amor ao som do sangue
às catedrais do puro gesto
com o grito e as aves
marítimas dentro das sílabas
ao breve cume da espuma
mãos nas mãos chegarei

chegarei com as espadas
areia verde dó planície
ao tutano meu amor da fome
com os frutos nos teus olhos
amante vento à espera
ao sexo nuclear do mundo
nervo a água chegarei

chegarei nas manhãs suadas
da voz meu amor liberta
à nocturna onda do poema
com as aves dentro do grito
ou só marítimo eco
à raiz exígua dos cristais
morte a morte chegarei

chegarei de pé ao silêncio
que vaza meu amor nos rios
remo a canto deslumbrados
contigo ao princípio chegarei



NATUREZA VIVA

Que o figo avermelhe a teu desejo,
Ovo granular, constelação;

E a polpa verde-escura,
Túmido impulso ou queda arborizando-se
Dentro dos ossos, te envolva,
Como estirada jaz a pele da infância.

Sem comentários:

Enviar um comentário