Um grande poeta e um dos poucos pássaros que conheço, saídos do sul, que degelou em pleno voo:
A VOZ E O VENTO
com palavras faço a voz
e o vento
de que viajam e são
insistente desejo a lucilar
sobre a pele morna
de girassóis filtrando
teu rosto
seios
paisagem nua de ventre
com palavras a voz do que faço
estes dias infensos
a pendor de gume
com palavras faço a voz
e o vento
de que viajam e são
insistente desejo a lucilar
sobre a pele morna
de girassóis filtrando
teu rosto
seios
paisagem nua de ventre
com palavras a voz do que faço
estes dias infensos
a pendor de gume
REMINISCÊNCIA
às vezes o exílio
é uma árvore aberta
na imponderável noite
e nada espreita
a estrada larga
fonte do olhar
principia como um homem
multidões ao vento
a terra exangue
o grito arável
às vezes o exílio
é uma árvore aberta
na imponderável noite
e nada espreita
a estrada larga
fonte do olhar
principia como um homem
multidões ao vento
a terra exangue
o grito arável
CANÇÃO
Para a Paula
chegarei com as árvores
meu amor ao som do sangue
às catedrais do puro gesto
com o grito e as aves
marítimas dentro das sílabas
ao breve cume da espuma
mãos nas mãos chegarei
chegarei com as espadas
areia verde dó planície
ao tutano meu amor da fome
com os frutos nos teus olhos
amante vento à espera
ao sexo nuclear do mundo
nervo a água chegarei
chegarei nas manhãs suadas
da voz meu amor liberta
à nocturna onda do poema
com as aves dentro do grito
ou só marítimo eco
à raiz exígua dos cristais
morte a morte chegarei
chegarei de pé ao silêncio
que vaza meu amor nos rios
remo a canto deslumbrados
contigo ao princípio chegarei
NATUREZA VIVA
Que o figo avermelhe a teu desejo,
Ovo granular, constelação;
E a polpa verde-escura,
Túmido impulso ou queda arborizando-se
Dentro dos ossos, te envolva,
Como estirada jaz a pele da infância.
Que o figo avermelhe a teu desejo,
Ovo granular, constelação;
E a polpa verde-escura,
Túmido impulso ou queda arborizando-se
Dentro dos ossos, te envolva,
Como estirada jaz a pele da infância.
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