sábado, 12 de março de 2011

Luto pelo Japão

hokusai

Imagine-se uma pessoa a segurar um curto e tenso espaço de silêncio.
Uma pequena guita que se começa a inflamar entre os seus dedos, sem haver onde nem como a pousar, porque essa pequena síncope de silêncio ganharia em tenacidade e engoliria o mundo se entrasse em contacto com a sua matéria.
Como aliviar o pobre homem que já tem os dedos a arder e uma osteoporose a galgar-lhe a alma?
O que senti quando ontem assisti às imagens do terramoto do Japão e me descobri, mudo e aterrado, no meio do bulício do casino onde Deus joga aos dados.
Deixem-me passar-lhe a guita do silêncio, que o seu tecido inflamável o consuma e reduza a cinza os dados.
E não quero a compaixao porque, querido Hitchcock, enganaste-te: o suspense e o terror podem coexistir.

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