sudek. chutar a musa |
Platão escreveu duas coisas terríveis que tiveram uma influência funestíssima nos séculos vindouros, e ainda hoje. A primeira é esta: «o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão», a segunda é o que se segue, concomitante: «não sendo cada um deles capaz de compor bem senão no género em que a Musa o possui». Ambas pertencem ao Íon, que está para o diálogo como eu para o ballet clássico.
O Michel Serres torce o nariz à dialéctica destes diálogos e entendo porquê, em toda a conversa (?) é o Sócrates quem estabelece “as regras do diálogo e da relação”, e para levar a água ao seu moinho, o “parteiro das almas” estende a idiotia do rapsodo (o recitador dos poemas alheios, que por delegação simboliza o poeta) aos cocheiros, pescadores e militares, que só serão excelsos na sua arte quando esquecidos de si.
E se o melhor que dão na sua arte pedem emprestado às Musas, e só chega por dom, imagine-se o desastre para o resto.
Isto já não há Sindicatos? De facto, uma sociedade que vive sob «a síndrome Lady Gaga» já não consegue discernir que os baixos salários começam pela depreciação dos ofícios no campo das ideias; o que urge uma reciclagem ou uma contra-argumentação.
Francisco José Viegas foi nomeado Secretário de Estado da Cultura. Procura-se Musa, mesmo que zarolha, pois os tempos estão necessitados de toda a arte.
Acho que tenho, ô Cabrita, uma que preenche esses requisitos. De quebra, ainda é manca.
ResponderEliminarTenho vindo pouco aqui (tenho ido pouco a qualquer lugar, virtual ou não). Atolado em chatices burocráticas e na busca de um apartamento. Chega de Lagoa (Rodrigues de Freitas), onde sou bosta de mosca num cartão-postal.
Abraço
P.S.: A URL do blog do Gonçalo Tavares está errada aqui. Tira o cedilha.