quinta-feira, 23 de junho de 2011

AS COISAS QUE IMPORTAM

mestre capone

                              para o Francisco Ferreira
As televisões anunciam: revólver
de Al Capone leiloado em Londres.
E eu em Maputo. Que falta
de pontaria para o destino!
Serei sempre como a figueira,
molenga, com uma alma
que é uma espelunca-de-aluger
e incapaz de frutificar a tempo de ter
as raízes pisadas pelo peso
das olorosas sandalinhas de Cristo.
Já perdi por um fio a guilhotina
de Robespierre, um tufo
da melena de Hitler,
uma sela marchetada a marfim
de Bush, o texano, um selo
exortativo da Grã Perenidade
de Mugabe e dois botões
de punho de Kadhaffi.
Só nos últimos 6 meses. É isto,
sem nada para deixar aos filhos.
Talvez um 123 para porem as farófias
no ponto, mas não é a mesma coisa.
A minha vida deslaça
sem que eu adira,
ainda que simbolicamente,
a um crime de monta,
uma crueldade com estardalhaço
digna de borrar de medo
a própria sombra.
Que tristeza ó minha mãe,
que me erodiste a ruindade:
eis-me um podengo do bem!
Uma revoluçãozinha, onde eu
pudesse fuzilar os refractários
e alguns poetas mais burgueses!
Chamava-lhes um figo. Hum!
Não há aí quem queira leiloar
esta minha incapacidade
para estar onde as coisas
que importam acontecem?
Eu vendo, por muito dinheiro!

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