terça-feira, 5 de abril de 2011

NO PLINTO DE CLAUDE ROY

KLEE

Uma hora de repouso a reler Les Rencontres des Jours, o extraordinário diário de Claude Roy, que cobre os anos 1992-93, e a que volto periodicamente, sempre com redobrado prazer, valeu-me desta feita um poema, uma tradução e uma nota:


AO ENCONTRO DOS DIAS: O VENTO
                              «(…) seul le vent parle d’Agamennon et de Clytemnestre»
                              Claude Roy
                                                    para a Izabel Lisboa

Só o vento fala de Agamémnon e Clitemnestra, mais
ninguém lembra. Quem faz a barba reflectindo
na dor de corno de Menelau e se Helena terá sido
um cata-vento ou uma mulher perspicaz
que trocou um bruto por uma sensibilidade à flor
da água – a quem importa isso agora?
Só o vento, esse museu da irrelevância,
de tudo o que foi esquecido, desmembrado,
não fraqueja a sua voz, ainda que a rebente
contra as orelhas dos surdos e as lapas
nas rochas da preia-mar. E o pior
de tudo, o inferno, é não poder amar
e encontrar de costas voltadas o vento e o silêncio.

5/04/2011



Se eu fosse o vento
faria refém o teu vestido
e os teus seios sentiriam
o meu sopro na tua ponte.

(anónimo grego)




Países há em que escolher um presidente não é dissemelhante de encomendar um sniper.

4 comentários:

  1. Receber esse presente na véspera do meu aniversário é um acalanto...
    Rajadas de vento, assim, chegam suavemente como brisa leve, mas emocionam com a força e a potência dos furacões!
    Encantei-me!
    Beijos, muitos!

    PS1. Esse anônimo grego era um grande sábio!
    PS2. Um vento norte contou-me que, na certa, Helena era uma mulher perspicaz que trocou um bruto por uma sensibilidade à flor da água... rs

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  2. António Cabrita, Olá! Descobri-te e tentei dar sinal com um comentário que pelos vistos ficou a boiar nos limbos. Como sou teimosa volto à carga: sou a Susana de Almada, há 30 anos, de Coimbra, há uns 10 anos, de Almada novamente, junto a uma prateleira de livros na FNAC, há uns 5 anos. És capaz de te lembrar de mim, espero eu. Há uns anitos (2 ou 3) andei a ver se te encontrava para te convidar para uma palestra numa coisa que organizei em coimbra mas não dei contigo (e se eu sou persistente) – e agora encontro-te aí em Moçambique, que bem! Era só para dizer que fiquei contente de saber novas e verificar que continuas o escritor de sempre. Eu também (a escritora falhada de sempre). Um beijo transcontinental e até um dia destes.(a ver se desta vez consigo enviar este telegrama)

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  3. Olá Susana
    claro que me lembro de ti e muito bem, gostei muito que fosses teimosa, e teria uma imenso gosto em retomar o contacto contigo. Manda-me o teu mail. Beijinho, Cabrita

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  4. susan.maria.g@gmail.com

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