(1939-2012)
Dizer neste momento, ó Kok, que a morte nunca dá demasia
é um bocado cretino, pois tu num átimo ficaste sem bolsos
com os dedos enregelados e incapazes de um último clique
quanto mais de levar à boca a moeda do troco para verificar
se é verdadeira. E ficou o teu belo rosto de chinês mais distendido
e aparentado a uma ínsua onde gaivotas esgaravatam anónimas
no encalço das algas onde as garoupas desovaram,
do que ao fio da memória que agora rumoreja
entre amigos e filhos, ou à sombra
dos milhares de retratos que tiraste. Olha,
meu velho, a vida hoje parece-me a casinha no pombal
a que voltamos de cauda entre as pernas depois de extraviados
entre nuvens durante mais de 20 000 km,
para afinal a sujarmos com o esterco
de tanta abstracção acumulada. O mundo devia ser uma presença,
o teu sorriso, por exemplo, e não a força centrípeta daquilo que desaparece.
Puseste-me sombrio. Gostei de te conhecer
e de aprender contigo que às vezes a gente (a boa
gente) ocupa o lugar dos pensamentos.
Do resto falaremos depois quando eu for aí
dar-te um longo e firme aperto de mão.
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