sábado, 11 de agosto de 2012

ADAGIA/ WALLACE STEVENS


No livro póstumo de Wallace Stevens, a quem os organizadores deram o preciso nome de Opus Posthumous, chamou-se Adagia a uma série de aforismos ou provérbios enxertados entre os textos de criação e os ensaios inéditos. Aqui posto os primeiros trinta e cinco, numa primeira versão:  
1.      A felicidade é uma aquisição.
2.      O progresso, seja qual for o aspecto, é um movimento através de mudanças na terminologia.
3.      A busca mais alta é a busca de felicidade na terra.
4.      Cada era é uma casinha no pombal.
5.      A corrente da consciência é individual; a corrente da vida é total. Ou bem: a corrente da consciência é individual, a corrente da vida, total.
6.      Dar um sentido da frescura ou da intensidade da vida é um propósito válido para a poesia. Um propósito didáctico justifica-se na mente do mestre; um propósito filosófico justifica-se na mente do filósofo. Não se trata de que um propósito seja tão justificável como outro, mas sim de que há propósitos puros e outros impuros. Busca aqueles propósitos que sejam puramente os propósitos do poeta puro.
7.      Dos vermes, faz o poeta trajes de seda.
8.      Os poetas de mérito são tão aborrecidos como a gente de mérito.
9.      Autores são actores, livros são teatro.
10.   Uma ideia atractiva: os aspectos da terra que têm interesse para o poeta são os fortuitos, como a luz ou a cor, imagens.
11.   As definições são relativas. A noção de absoluto é relativa.
12.   A vida é uma questão de gente, não de lugares. Mas para mim a vida é questão de lugares, e esse é o problema.
13.   A sabedoria não pede mais.
14.   Parfait Dominique: mousse de café, uma pitada de rum, e em cima de tudo um pouco de nata.
15.   A literatura é a melhor parte da vida. À qual parece forçosamente necessário acrescentar: sempre e quando a vida seja a melhor parte da literatura.
16.   O pensamento é uma infecção. No caso de certos pensamentos converte-se em epidemia.
17.   É a vida o que tentamos agarrar na poesia.
18.   Quando alguém deixou de acreditar num deus, a poesia é aquela essência que ocupa o seu lugar como redenção da vida.
19.   A arte, em sentido amplo, é forma de vida ou o som ou a cor da vida. Considerada enquanto forma (no abstracto) amiúde é indistinguível da própria vida.
20.   Parece o poeta outorgar a sua identidade ao leitor. É mais fácil reconhecer isto quando se ouve música. Refiro-me ao seguinte: à transferência.
21.   A observação precisa é o equivalente do pensamento preciso.
22.   Um poema é um meteoro.
23.   Um pensamento ao entardecer é como um dia transparente.
24.   A perda de um idioma produz confusão ou estupidez.
25.   Não é o mesmo ir acumulando poesia a partir da experiência, ao longo do percurso, que meramente escrever poesia.
26.   A relação da arte com a vida é de primeira importância especialmente numa época de cepticismo, face à ausência de uma crença em Deus, quando a mente se volta para as suas próprias criações e examina-as, não só desde o ponto de vista estético, mas também pelo que revelam, pelo que legitimam ou invalidam, pelo apoio que dão.
27.   Um tema grandioso não garante um efeito grandioso mas sim, provavelmente, todo o contrário.
28.   A arte entranha muito mais que sentido da beleza.
29.   A vida é o reflexo da literatura.
30.   Quanto mais terrível se torna a vida, mais terrível se torna a literatura.
31.   Poesia e matéria poética são termos intercambiáveis.
32.   O tratamento é tudo («Les idées son destinées à ètre deformées à la usage. Reconnaître ce fait est une preuve de désinteressement», Georges Braque, Verve, núm. 2).
33.   A imaginação deseja que a consintam.
34.    Um novo significado é o equivalente de uma nova palavra.
35.   A poesia não é pessoal.

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