Tenho alguma dificuldade em aceitar que o filósofo Alain Badiou, brilhante em tantos aspectos, associe a necessidade de focar um inimigo à prática política.
Em África não se pensa doutra forma – tem que se eleger um inimigo.
Eu, talvez por emergir num período pós-revolucionário, não aceito esta dicotomia e rejeito-a no quotidiano.
Acho que só quem não é assertativo é que incube inimigos.
E julgo que é muito difícil atingir a qualidade requerida à categoria de inimigo.
Por exemplo, Filémon ambicionava a morte para assim ter ocasião de ir ver Eurípedes no Inferno. Isto é um inimigo.
Ma quantos “inimigos” meus desejariam a própria morte para terem o gozo de me visitarem no Inferno?
Estou rodeado de gente que não me grama, é isso. Bem hajam!
Quem respira em inimigos só produz a irrealidade. E os que insistem em colocar permanentemente um inimigo à frente dos bois, para além de terem pouco que fazer e pensar (é tão simples e confortável imaginar que o mal nos é sempre exterior, e que somos sempre vítimas de manobras), fazem-me lembrar aquele trocadilho gasto: não é alma, é asma!
Claro que o mal existe, mas isso é outra história.
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