segunda-feira, 15 de agosto de 2011

BIENVENUE MISTER CHANCE



Não para quê – ou sei – podei livro novo, isto é, desbastei tanto e remontei de tal forma os materiais dum livro que renasceu, de facto diferente, e, parece-me cristalizado.
Agora, seguirá sozinho o seu percurso.
Chama-se «Um Espião na casa do Amor e da Morte», e é um livro-reportagem, com reflexão q.b, sobre a violência (doméstica) em Moçambique e os mistérios do amor.
Há oito meses que o queria pronto, mas as circunstâncias não ajudaram e ainda bem. Só o tempo de facto é o grande mestre e melhora sempre tudo o que toca. Para isso é preciso aceitarmos a duração - esta condição é essencial.
Como sabemos pelo descolorido da fruta pasteurizada, a inversa interessa ao comércio mas antecipa a morte do artista.
Por muito que custe admitir ao nosso engenho, só o tempo traz a uva à videira, no alpendre que montámos.
E depois desta sabedoria à Mister Chance (filme, personagem, e actor – Peter Sellers - impagáveis), me voy, entusiasmado como um puto a atirar pedras por aí.
Mas aqui vos deixo (o primeiro rascunho do prefácio está nos arquivos do blog: Amor Cão), o epílogo, em forma de fábula, e que tenciono converter num conto:
«Não se sabe como tudo começou. Ou antes, não se desconhece que tudo foi precedido pelo desaparecimento da actriz francesa Julianne Morceau, nas imediações de Manica.
A actriz, que há seis meses aterrara em Maputo para viver longe do mundo o luto de uma decepção amorosa, pretendia representar o seu monólogo «Medeia nas Costas do Sol» nas comunidades locais e trabalhar como activista junto das mulheres vítimas de violência doméstica, propondo-se chegar aos lugares mais recônditos.
Julianne fez ainda uma sessão na sede da organização Lemusike, em Chimoio, e subiu com duas das activistas ao morro Cabeça do Velho. Depois despediu-se, entrou no carro e dirigiu-se para a saída da cidade, donde rumaria a Manica.
O resto, são conjecturas, lendas. Que nascem da única palavra que as Mulheres do Rio, como a si mesmo se chamam, proferem, quando lhes perguntam quem as inspirou a virem para a praia com as rocas, e elas rumorejam: Ju-lia-nne, abafando quaisquer outras explicações com um sorriso.
Sabe-se também que são mulheres com um passado de vítimas de violência doméstica, e que de súbito tudo abandonaram, um dia, antes de aparecerem semanas depois nas praias do país, descalças, vestidas de linho branco, e com uma roca.
Não falam do que lhes aconteceu entretanto.
Começaram por aparecer em Zalala, a mais bela praia de Quelimane, mas de Pemba à Macaneta, são uma legião cada vez maior, que assombra os homens.
Porque nada dizem, a ninguém acusam, e ninguém as vê levarem alimento à boca.
Limitam-se a sorrir, e de pés enfiados na água, fazem rodar a roca.
São milhares, ao longo da costa.
Os homens, que começaram a temer pelo desaparecimento de mulheres e filhas, voltaram a cortejá-las, voltaram ao diálogo, à compreensão.
E quando os mais impacientes, insistem, que fazem vocês, elas apontam as águas que rebentam junto aos pés, como se dissessem: vê!
E quem olha acaba por ver: dobam a espuma.»







1 comentário:

  1. Dr. Cabrita,le-se o seu blog como se folheia um catalogo de belos quadros...podia dizer tanto- sobre as suas formulas,estilo, evocacoes-m, para fazer breve tenho tambem por mim que ha igualmente uma parte de mistificacao de que voce tem a certeza ou melhor sabe que, este blog, sera um dia publicado apesar do terco de publicacoes de que o nosso pais ainda nao tem conhecimento.

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