segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A GARRAFA VAZIA DE MANUEL MARIA

eduardo gageiro

A GARRAFA VAZIA DE MANUEL MARIA
                                      para o Zé e a Fátima

Inconcebível, nos trópicos, o deslizamento
dos glaciares, mas é nesse transe que me sinto,
sob uma humidade canina, sem ponta de energia
para o mais pálido relincho. Nem mesmo o sonho
de uma voz feminina embalando um fim de tarde,
me salva de dobar no vento as esquinas da saudade.
Sabendo embora que ninguém atende ‘a chamada,
que aqui ou lá o cortejo é fúnebre, e ajusta
os mananciais ‘a garganta do insone, arrefecendo
nos olhos as brasas de quem lembra. O pendão
da distancia congela numa severa moderação
de gestos. Filhas por abraçar, amigos com quem
esboçar um destino já prescrito, rebentas desalojado
de astúcias como a espuma na falésia. Tanto
que viajas, mais que o nome, represa a hélice
num banco de algas, tanto que divaga
a tua quilha, a margem do silencio
com que passo a passo se sela a sombra.

1 comentário:

  1. Adorei o poema. Tanto sentir condensado em tão poucos versos. Não o "roubei" para o FB, como faço algumas vezes, porque está dedicado e não me pareceu correcto. Mas merecia leitura mais alargada. Obrigada pela beleza do que escreve e vai deixando aqui.
    Aliete

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