O livro olhava para mim, da estante. Bebi o café e comi a torrada, repimpado na cama, mas o livro não desarmava. Fitava-me, de esguelha (ou de lombada), na estante. Depois da última golada de café decidi-me, fui buscá-lo. Uma antologia (em espanhol) alentada do poeta polaco Tadeus Rózewicz, nascido em 1921 e uma das vozes mais autênticas da “anti-poesia” universal. Como o chileno Nicanor Parra, que já traduzi aqui para o blog, ou, das Balcãs, Vasko Popa, de quem hei-de fazer versões.
Abro o livro ao calha e sai-me isto:
CORREÇÃO
A morte não corrigirá
nem uma linha de um verso
não é uma correctora
não é uma benevolente
redactora
uma má metáfora é imortal
o mau poeta que morreu´
é um mau poeta morto
o aborrecido trás a morte entedia
o pateta vomita patetices
e estupidifica a própria tumba
Estupidificado na própria cama, apanho um susto de morte. Uma má metáfora é imortal. Já fui responsável de quantas centenas de más metáforas, de quantos milhares? Imortal? Como os vírus, afinal?
Há uma ecologia para o verbo a que de facto não ligamos. Devíamos ser mais parcos, posto que na verdade não ressuscitaremos para corrigir qualquer coisinha, enquanto as más metáforas são imortais.
Alguém tem por aí um aparador de relva que me empreste?
De facto são imortais :) Abraço.
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