quinta-feira, 15 de março de 2012

VAMOS BRINCAR À CARIDADEZINHA, QUERIDO EMIGRAS!


Voltemos então ao convívio dos mortais (…brinco, meus espantalhões, epítote carinhoso que me dá uma velha amiga e que estendo aos meus queridos emigras) para vos falar das cólicas de viver em terra alheia. A saga, do casal (português) meu amigo para arranjar nova casa, continua. Como vos contei a senhoria havia-lhes pedido um aumento de 50% durante seis meses, de 1000 para 1500 – enquanto ela fazia obras lá dentro com eles acampados no coração do inferno – para depois os voltar a aumentar upa, upa. Pois se já havia feito obras à conta deles, do aumentinho de 50%! Mas o melhor vem a seguir: o meu amigo resolveu ir falar com a senhora e averiguar o que autenticamente queria a dita. E explica-se a madame: depois das obras quer 3000 dólares. Como eles são cumpridores ela promete um preço especial, 2500. O meu amigo fica atordoado com tanto descaramento e então ela dá-lhe a estocada fatal: “se o sr. fosse gentil nós fazíamos já um contrato de 2500 a começar imediatamente, e nestes 6 meses das obras só pagavam 1500, era só para eu ter um contrato com esse valor e poder pedir um empréstimo ao banco para pagar a casa”. Touché! Mas dito com souplesse e boa consciência, como se a senhora a tivesse, apesar da enormidade que pedia! Veludo por fora, aço por dentro. Vamos brincar à caridadezinha…
Este oportunismo malsão não é exclusivo desta dama tão fina, é geral, entre outras razões porque há milhares de pessoas nesta cidade que “herdaram” as casas, receberam-nas de borla (vantagens de ter um cartãozinho do partido), e não sabe quanto custa o que custa. Agora há que sugar o papalvo da ONG ou o emigra. Falamos duma terra onde o ordenado mínimo se cifra em 100 dólares e um professor universitário, um médico, um engenheiro, ganham de 500 a 1000. Falamos duma cidade até catita, mas onde assim que chegamos temos de comprar carro porque não há transportes…

Os meus amigos contactaram então com duas agências imobiliárias para lhes procurarem casa. Ao cabo de uma semana sem eco, ela resolveu telefonar para uma das agências e perguntar pelas diligências. Resposta pronta do menino (que ganha 200 dólares e vive nos subúrbios), “minha senhora, com o plafond que nos indicaram (até 1800 dólares, máximo), não se arranja nada de jeito nesta cidade! Falamos de uma cidade onde até há 2 anos e meio era vulgar arranjar um t3 a 500 dólares. Vamos brincar à caridadezinha?
Esta inflação, danosa e imoral, surge de um conluio entre agências, senhorios sem um pinto de vergonha e que todos os meses querem abrir uma nova fábrica da Regina, uma política que apoia o informal e não regula coisa nenhuma, e de um não-dito xenófobo que se manifesta pelo cínico, “se temos que os aturar, paguem…”. É este o clima, topam? E daqui a dois meses acaba o meu contrato de arrendamento. As pernas, já depilei! Depois é só cortar o bigode, meter saltos altos e fazer o trottoir!  Vamos brincar à caridadezinha… O felatio é gracioso!

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