quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

TRADUZIR GAMBOZINOS

hokusai, o sonho da mulher do pescador
Nova fornada de haikus, com a habitual ilegitimidade de quem não sabe japonês e se pôs a catar gambozinos no tremendo escuro de outras línguas, de que resultaram os seguintes pirilampos:

Sobre o breu do mar
o grasnar dos patos,
talvez branco.



Upa, primavera –
a colina sem nome
tremula na neblina.



A toda a brida no campo
E, de repente, deténs o corcel:
                              o rouxinol.



Narciso e biombo
um ao outro se iluminam:
branco no branco.



Estendido flui
do mar bravo à ilha:
rio de estrelas.



Arde o sol, arde
sem piedade – mas o vento
é de Outono.



Que irrisão!
Debaixo do elmo do herói
desatou a cantar o grilo!



A este caminho
já ninguém o utiliza
salvo o crepúsculo.



Admirável
-não diz, diante do relâmpago,
que breve a vida!


Basho


Diante deste branco
crisântemo, mesmo
a tesoura duvida.


Árvore em flor.
Ela lê a carta
banhada pela lua.


Buson




Não trocam uma palavra
o anfitrião, o hóspede
e o crisântemo.


Cai o carvão,
cai no carvão:
anoitecer.


Regresso assaz  irritado
- mas logo, no jardim:
o jovem salgueiro…


Acossados
escondem-se os pirilampos
nos raios de lua.


Oshima Ryota



Para o mosquito
também a noite crepita,
longa e solitária.



Há qualquer coisa
nessa cara, há qualquer… deixa
cá ver  -  ah sim… a víbora!



Sobes no Fuji, fazes
render o peixe – mas sobes,
                       caracolito!



Maravilhoso:
palpar entre as frinchas
a Via Láctea.



O rapazito queria
conservar entre os seus dedos
as gotas de orvalho.



Com que ímpeto de inveja
segue com os olhos a borboleta
o pássaro na gaiola.

Kobayashi Issa

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