sexta-feira, 12 de abril de 2013

QUATRO VELAS DE RECATO

Georges de La Tour

Quatro velas íntimas. As versões são minhas. Algumas palavrinhas não tem acentos pois estou a ser boicotado por um teclado sul/africano


Vivo para devotar-me
a uma ou duas palavras
nuncas ditas,
impronunciáveis –
essas que se adivinham
uma hora antes da alba
no olho do antílope
que lentamente se espreguiça
entre duas arvores sonolentas.
                                Joel Bosquet



RETRATO DO EQUILIBRISTA

Primeiro que tudo a arte de não
                           se cansar,
de trocar de pé com graça
                          sobre o abismo
e ter um andar airoso.
Amigos e inimigos nivelados
                             e repartidos
como pesos invisíveis
na orla do guarda sol.
Voe a pena no meio do coração.
E sirva a mesma linha central para desejar
                                 e pensar –
sorrir sobre os abismos.
                                       Harry Martinson



ARRABALDE

No arrabalde infinito
há uma árvore ratada.
Aguentam-na em pé as folhas
que só ao vento ressoam.

Um álamo no pó,
desfiado por casas em uniforme.
Brincam os miúdos em seu redor
o jogo da vida mínima.

Compram areia por farinha.
Vendem pedras por pão.

]E quase verão.
                           Gunnar Ekelof



ENTRE NENÚFARES

Escrevi um prólogo ao que ia dizer
mas perdi-o. No entanto,
antes que a noite me cubra
gostaria de dizer o seguinte -
seja um punho cerrado entre nenúfares
a ultima imagem que de mim se veja,
a ultima palavra que de mim se ouça
as borbulhas subindo do fundo.
                          Erik Lindegren

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