quarta-feira, 17 de abril de 2013

O SOFÁ OU TRÊS RAZÕES PARA SER, DE UM HERMÉTICO


                                                desfazendo mentes confusas> moi e Trindade


                                                                                  para o Capão e o Trindade, dois bonitoes
1

O meu telefone inventou
de tomar banho!”, lastima-se
uma rouca voz feminina atrás de mim
(“à minha atrás”, se diria

em escorreito moçambicanês),
na tasca onde sou um mero adereço
da Laurentina (- uma hospedeira
de bordo que conheci ontem!).

Melhor, só se alguém entrasse
para anunciar, foda-se, numas
escavações do Peloponeso, achou-se

a gravata do Aristóteles! Dada
a improbabilidade - até por uma questão
de sanidade - traz-me outra!


2

O MEU SOFÁ

O meu sofá, de tão coçado,
(- e tanta flor, para quê?)
é como um alfabeto inepto
que nunca reclamou
uma ideia justa
e antes se afadigou
a trocar uma ideia
pelo que as letras compram.

O meu sofá, tela
para nádegas tão ocas
como nozes que a paciência
de deus esgotou,
recorta, em tudo
o que está ‘scrito,
a imagem dos ventos
que desenham os lóbulos
do que tanto fede no Inferno!

Já foi o meu sofá, em novo,
terra de assobio & assalto
a ninfas e ondinas, era
‘inda o coração um sobrescrito.
E até amores teve,
por solene endereço.
Agora é uma bandalheira,
qualquer Trindade,
qualquer cabrito,
lhe acumulam o pesar.

3
E se Pessoa, na ocorrência, tivesse fingido ser Fernando Pessoa, perguntava Tabucchi no livro que lia há cinco minutos atrás.
Não creio que de outra forma tivesse sido Pessoa, o próprio, digo eu, no momento em que leio que um elefante achou que o abuso de dois chineses no Kruger Park devia acabar e, depois de tantas fotos - como Alberto Caeiro -, lhes cagou em cima.

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