Decidi ler em voz alta
com a Luna, de 9 anos, O Diário de um
Banana/ A última gota, terceiro volume da série, e ao fim de 50 páginas
estava absolutamente agoniado. Acho que somos pais de uma irresponsabilidade
absoluta ao deixar que esta série medíocre inunde como um quiasma a percepção
das crianças sobre o mundo.
O Greg é o anti-Mafalda
e a exasperante adaptação ao princípio
da realidade, pior, é o desejo dela.
Nas histórias de fadas
havia sempre um castelo que estava encantado durante cem anos e que abria e
revivescia quando alguém prenunciava a palavra decisiva – e toda a existência,
o olhar sobre as coisas, mudava nesse instante.
Quando eu lia o Príncipe
Valente, o caudal contemplativo pausava o ritmo da acção, que era repleta de perigos,
armadilhas e prodígios, mas que levava o herói a condutas permeadas de valores
e do sentimento de que vida é uma conquista indissociável do sentimento de
partilha e da necessidade de superação. Nada era inexorável e irreversível –
dependia do esforço e da dedicação dos protagonistas.
A Mafalda era o
aprendizado da crítica nas relaçãos interpessoais e a desmontagem ideológica no
quotidiano, e recebíamos isto com 10 anos, 11.
O Banana é o elogio da
cobardia, da resignação, da sacanagem, do esquema, da trivialidade, do humor
rasteiro de um mongo. O Greg é um cabrãozinho tão satisfeito com a sua absoluta
disfunção que nem a roer as unhas é bom. Faz lembrar um palestiniano cujo único sonho
fosse varrer bem as escadas de um “falcão”
israelita. Tudo isto disfarçado com um tom paródico, que bebe na auto-ilusão da
personagem: “bom, o problema é que não é fácil para mim pensar em formas de me
melhorar porque já sou, basicamente, uma das melhores pessoas que conheço!”. O
melhor que se consegue aqui é deste calibre: «Felizmente a Mãe não falou do meu boletim de notas durante o jantar. E,
quando a Avó disse que precisava de sair para ir ao bingo, fui com ela. Fugir ao Pai não foi o ÚNICO motivo para ir ao bingo com a Avó. Também
fui porque precisava de uma forma garantida de ganhar dinheiro».
“Humor perfeitamente construído e um herói
realisticamente construído…” escreveu-se no The New York Times, sobre este Greg,
que é a mais medíocre das criaturas e faz da sua pequenez, do seu mínimo
esforço, da sua esperteza de manga d’alpaca modelos para a vida. Bardamerda.
Já vendeu 325 000
exemplares em Portugal. E nós alheamo-nos ou distraidamente (sem lermos) achamos
graça porque é o anti-herói, etc., as
tretas do relativismo. Renovo o bardamerda.
Pior. Descobri que
somos governados por fãs do Greg Heffley, não só no governo, mas também na
oposição. Que o mundinho português está cheio de Bananas para quem o Greg é um
ídolo.
No outro dia ouvi no
Ziguezague, o programa para as crianças na RTP, o folião do animador incitar as
crianças a um trabalho criativo. E dizia: “ Então, que esperas para começar?
Não vai ser uma obra-prima, mas não faz mal…!” Faz mal e muito e nós é que
desaprendemios de acreditar e nivelamos tudo por baixo.
Tão por baixo que até a
gala de anos do Ziguezague, este fim-de-semana, apesar de tudo, foi mais
inventiva do que a miserável gala dos 50 anos da RTP, há umas semanas, escrita
e conduzida pelo inefável La Feria. O que até é lógico, porque a perpetuação da
pueralização redunda na idiotia.
Fui hoje tratar do DIRE
(BI para estrangeitos em Moçambique). Mais uma sangria – 400 euros anuais moem
no “capital” de um professor universitário. Mas pela primeira vez foi um
processo simples, sem complicações. Mercê de estar casado com uma moçambicana.
Dantes, já estava casado mas não tinha “o papel” – e foi o inferno. Começo a
desconfiar que a minha ida para o Céu, directamente, por não ter os pecados do
peculato, da usura, da ganância, da avarícia, do adultério (nem esse, Senhor!),
da pedofilia, da soberba, de alguma excelsa perversidade, etc., não está segura.
Que não basta ser boa pessoa, e terei de me
casar com a Igreja. Porra, vou procurar saber os regulamentos da entrada no
Purgatório.
:))
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