saudek: a plácida fantasia
Depois de uma hora a julgar que me debatia à entrada duma carruagem do metro em Tóquio, com a mole humana a acotovelar-me, a pontapear-me, a esburacar-me com soslaios assestados na ovelha branca, a passar-me o ranho para debaixo do sovaco, a estreitar-me costelas e o puro encaixe de Camões, entre a aorta e o que se irrita à sua direita, se for a febre muita e a razão nenhuma; depois de vazado o meu suor em tanto músculo alheio, de ter respirado as axilas que o diabo amassou, de ter acudido com a mão no alto, cinco vezes por afligido estertor, oitenta por pensar ter sido o meu nome pronunciado, enquanto o fuzilão de um cinto se espetava nas minhas costas, percebi então que estava num cartório moçambicano esperando pela entrega do reconhecimento de três assinaturas, e que aquele apinhamento, tal agonia, eram normais, eu é que estava mal habituado. E assim que me resignei ouvi o meu nome.
Saí para a rua extenuado por dois meses, sentei-me num tasco, pedi uma Laurentina e escrevi esta
A morte usa o nosso Visa
Não aceita um remoque
Uma distracção, um suborno -
E o diabo deu de frosque!
Não há como não adivinhar
Que a coisa é pessoal,O amor estoira-nos o Visa
Depena-nos mais que o Sisa,
Nem aceita um adiamento
- E a diaba deu de frosque!
O bosque é, à uma, um
caos.
Às duas melhora, mas,
em meio, Nele perdemos a placidez da aurora.
Na da infância já nem se fala,
E levou consigo a mínima noção
Do que seja lucro, a penhora,
A magra vantagem do musgo
Que seca na pedra.
Poeta sou, e suponho-o
pouco
Para afastar a pedra
nos rins,Do coração o xchopela
Da decepção, e do conhecimento
O ranço agudo. Defenestram-se
Flamingos naquela capela!
Que me suportem os
amigos!
Não há como não julgar
Não há como não adivinhar
O bosque é, à uma, um caos.
Poeta sou, e suponho-o pouco!
Que me desinfestem os amigos!
desinfesta daqui, bode velho, que dizes: "Poeta sou" e poeta não és.
ResponderEliminareste meu amiguinho anónimo adora-me... coitado, está refém do que odeia, por isso volta sempre. até me palpita que sei quem seja... alguém que é tolo o suficiente para confundir a poesia e o poema. que volte sempre, não podemos refrear quem deseja assim, compulsivamente...
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