Inaugura-se amanhã, na Casa da Cultura de Alfândega da Fé uma exposição de desenhos e pinturas da LOURDES SENDAS, uma pintura de quem sou amigo há trinta anos. A exposição é muito bonita e escrevi para o catálogo este pequeno texto que posto em baixo:
«É surpreendente quando se chega a uma
simplicidade tão manifesta como a destes desenhos e aguarelas de Lourdes Sendas
e se constata que afinal nada se perdeu.
Há uma qualidade muito oriental nestes trabalhos,
e não a sei explicar de outro modo: quando se compreende a linguagem dos
pássaros não é porque os pássaros aprenderam a falar, mas sim porque os homens
aprenderam a linguagem do silêncio e captam a emoção interior do pássaro
expressada no seu cantar.
Quando vejo estes desenhos e aguarelas vejo que a
Lourdes chegou a essa via do silêncio, a essa qualidade de seguir a linha de
menor esforço e de esperar que a linha de retorno leve à tendência desejada. É
um caminho de não resistência, quando a mente do pintor fica quieta como um
espelho e os materiais, as cores, os traços, os ritmos e os espaços em branco
ordenam numa conversa entre si o seu caminho próprio.
Garantia o Leonardo da Vinci que a «mão pensa»:
nunca, no trabalho de Lourdes Sendas, havia sentido como aqui que essa
evidência tivesse tanta propriedade.
A mão da pintora está absolutamente livre nestas
aguarelas, tão livre que pode de novo conjurar a memória, sem nenhum peso
exterior ao do ritmo vital da sua expressão.
Quando já não há nada a provar fica-se assim:
maravilhado diante das paisagens do silêncio. Coisas simples, as mais férteis. »
Espero que a exposição tenha o sucesso que ela merece:
Bonito texto, faz-nos quase sentir as pinturas sem a ver
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