PSICODELIC SNAKE se chama a exposição que hoje inaugurará na Fortaleza, em Maputo, de Rafo Díaz, um peruano excelentíssimo que, quis a sorte e o destino, habita entre nós.
Rafo é um andino puro e um maravilhoso contador de histórias que palmilha todos os anos milhares de quilómetros para alegrar as crianças com fábulas e lendas locais ou amazónicas e que, num país decente, já tinha sido adoptado como cidadão honorário, mas que aqui faz o seu percurso apesar de.
Desta vez não nos vai contar histórias de embondeiros, como as que coleccionou no seu livro "O Coração Apaixonado do Embondeiro", mas desce (ou sobe) na vertical à sua alma xamânica para nos apresentar "a sua particular viagem" com cobras, que, inquietantemente, mistura com os padrões das capulanas.
Daqui, esta exposição seguirá para Nova Iorque, e por isso é aproveitá-la enquanto podemos, pois a seguir as peles das cobras serão largadas em terras do yanke.
Para o catálogo da exposição escrevi este pequeno texto:
ORAÇÃO
Ilimitadas e imortais,
as
cobras
são o princípio e o fim de todas as coisas da terra.
Músculos de
deus ou do diabo,
consoante se aninhem no coração ou na mente,
é
negro e bífido o seu relâmpago.
Ao seu coleante aceno o
vento
eriça-se.
Conhecia as
cobras de mel,
que no Peru vão dormir no oco das flautas,
mas
as que se dissimulam nas fibras,
nos padrões das
capulanas,
acordam um metal na voz.
E fica mudo
aquele que as vê deslizar
dos tecidos
para o meio das letras,
sentindo que lhe cosem
no olhar diamantes tão frios
que só
sobra uma pergunta:
quem escamou o sol?
É com estas cobras que
o Rafo Diaz nos encadeia,
e, se por duas vezes seguidas elas nos fixam,
como imagens mortas
se desprende a
nossa pele.
Só então os olhos do meu espírito
circundam na tua boca os
Seus favos de silêncio.
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