terça-feira, 18 de setembro de 2012

CANTEIROS DE BERNARDO SOARES

                                                                           rui pimentel


 
Coitado do Bernardo Soares, que intercala silêncios e intervalos, e para quem «o verso é uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa». Fui-lhe ao trompete e de relance em poucas páginas pesquei estes versos. Inaparentes, está claro:  

 


Uma gargalhada de criança deserta

fez de canário na atmosfera limpa

 

Ora as costas deste homem dormem.

Todo ele que caminha adiante de mim

com passada igual à minha, dorme.

 

A treva encarvoou-se de silêncio

 

O vento assobiava no intervalo do vento

 

Quando o estio entra entristeço

 

e não há mais que o grande silêncio sem

patos bravos que cai sobre os lagos

 

a solidez negra das árvores

que acenam verdes em cima

 

um negrume surdo calou-se sobre o ambiente.

E súbito, como um grito, um formidável dia estilhaçou-se

 

Não há de que haver arredores

 


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