sábado, 17 de setembro de 2011

O FUTICOOL: JOGAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO



Só é parcialmente verdade que esteja tudo inventado. Do que decorre que seja falsa a proposição, a não ser que um gomo da laranja seja, por sinédoque, toda a laranja e prescinda, para acontecer, da totalidade que a inclui.
Mas veio isto a propósito de uma discussão que tive ontem sobre jogos, pois um dos meus interlocutores dizia que estava tudo inventado e não era possível inventar um jogo novo. E eu fiquei de esboçar para hoje um jogo novo em que, ainda por cima, se misturam duas modalidades históricas: o xadrez e o futebol. Chamei à coisa o futicool.
É uma modalidade que se pode jogar num recinto relvado ou num pavilhão, em meio campo de um campo de futebol, com nove jogadores por equipa (guardar-redes mais oito jogadores), uma só baliza, um homem e uma mulher nus (o Rei e a Rainha).
O jogo só pode ser jogado por antigos e verdadeiros craques de futebol, desses que como o Garrincha ou o Futre fintavam três jogadores dentro duma cabina telefónica.
O jogo dura 90 minutos, em duas partes de 45 minutos. Em cada parte ataca alternadamente uma das equipas.
Este é um jogo em que como no jujuts se aproveitam os desequilíbrios do adversário, num grau de intensidade muito superior ao que é comum no futebol, porque não é permitido meter golos.
Ou antes, neste jogo, só contam os auto-golos.
O objectivo é exercer uma pressão tão grande na equipa adversária que os auto-golos aconteçam, pelo que não se trata apenas de neutralizar a resistência da equipa adversária, como de conseguir prever as suas reacções e usá-las, tal como o seu cansaço, em benefício próprio contra a intenção primeira dos seus actores.
O ideal é conseguir que tenha lugar um caudal de ataques tão magnificamente desenhados e num tal ritmo que os adversários se baralhem e, atabalhoadamente, acabem por jogar contra si, atirando, sem querer, na sua própria baliza.
Na tangente dos dois vértices superiores do rectângulo da grande área, à esquerda e à direita, desenha-se um círculo com um perímetro de três metros. Aí se deitam o Rei e a Rainha, nus, trocando de círculo a meio do jogo. E, enquanto decorre o jogo, acariciam-se, nos preliminares de um acto amoroso. Os jogadores devem fazer o esforço de não deixarem que tais actos diminuam a sua concentração e no círculo onde estão o Rei e a Rainha, a bola não pode circular rente à relva – o que dificulta ainda mais a tarefa dos atacantes. Se os defesas fizerem com que a bola toque na Rainha, sofrerão penalty, marcado pela Rainha.  
À baliza, naturalmente, em homenagem ao cavalo no xadrez, deve estar um centauro.
A impulsiva coreografia do futebol, aliado ao auto-domínio e o raciocínio do xadrez, é tudo o que se pede no futicool, para o qual ainda delineio as regras do jogo.
Ou podem os meus amigos colaborar.

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