quarta-feira, 7 de setembro de 2011

FUGIDO DO SEU FRACASSO

helen mirren como prospera, na ultima adaptacao de A Tempestade
“Vem fugido do seu fracasso!”, eis a fórmula encantadora com que se designa na Índia aquele que voltou a cair na atracção de Samsara, o ciclo infernal dos nascimentos. Assim estou eu com a poesia, sempre a querer rejeitá-la e ela a soprar-me no pipo. Desta vez foi a releitura do primeiro Acto de A Tempestade, de Shakespeare, que me entornou neste derrame:


TORNAR À TEMPESTADE
                            para a Maria Joao Cantinho, que continua com cara de castor

O meu pai era tipógrafo,
a sua carranca nascia da máscara
que lhe punham as letras de chumbo.

Mas a sua alma flectida em mim
não me trouxe aos rins
as mais leves golfadas de ouro.

Temo que sob o naufrágio
duma fadiga há tanto anunciada
esplenda a pirite, a matéria amorfa,

a dúbia fracção do que também nele
não achou um atanor alquímico.
Para lá das sombras fixas,

estaleiro donde já não partem
as aves, eis-me como Prospero
retirado de sua arte e,

condoída mudez
aos primeiros relances
de Milão, resignado

a consagrar um de cada três
pensamentos à brasa,
à fundura da tumba.

2 comentários:

  1. Olá, António, o castor emplumado agradece a atenção! Tenho saudades tuas e do teu humor corrosivo.

    beijo,
    mj

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  2. a m'a fama com que tu me deixas, esqueceste-te de dizer que tambem sou um pachola ternurento

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