sexta-feira, 27 de maio de 2011

PARA TRÁS MIJA A BURRA



Tenho um amigo, o Nazir (tudo bem aí em Barcelona?), que nas fotografias aparece sempre de costas. É um mistério. Reúnem-se quatro compinchas e fazem uma foto de grupo, e ele, que sorri para a câmara como os outros, aparece de costas.
Há duas hipóteses, ou o sacana é Jeová, himself, e cada um de nós o coitado do Moisés que chamusca os cílios e pestanas nas costas de Deus que se afasta, ou nós somos os figurantes de um sonho dele e ele é único que está cara com cara com a realidade. A gente deixou de se interrogar muito sobre este particular.
No outro dia propus-lhe, vou tirar uma fotografia às tuas costas, a ver o que dá.
Deu o Jardim de Versailles, tal como o imagino, pois nunca a palma dos meus pés pisaram a brita das suas alamedas.
Chamei outros amigos para repetirem a experiência: todos lhe tiraram uma fotografia às costas e deu sempre o Jardim de Versailles – tal como cada um o imagina. Para o Núrio, o Jardim de Versailles é uma loja de trezentos. Ele foi maoista em tempos - não sei se será desculpa.   
O que é assustador é que esse meu amigo, nos sonhos, é cleptomaníaco. O gajo não se aguenta, gama tudo o que vê. Pelo menos uma vez por semana, quando vamos jogar bilhar, ele faz-nos o inventário do que gamou nessa semana. Contudo, de nossa casa ele não leva, traz.
Criou de miúdo o hábito de passar pelo arraial permanente que fica no terreiro em frente à casa dele, e de ir à barraca de feira atirar argolas aos gargalos das garrafas. Antes de sair de casa telefona e pergunta, quantos vamos aí jantar esta noite? Cinco. Vai à barraca e ganha cinco copos. É matemático.
Ontem trouxe-me uma fotografia do Eusébio de costas a fintar o Pelé. Está inédita, nunca tinha visto, e o Pelé tem o ar de quem vê pela primeira vez um violino a tocar saxofone.
Foi o primeiro mimo que recebi ontem.
Depois no Blog dele o Amadeu Baptista postou uma fotografia minha que é do mais catita que há, ia-me afogando nela como Narciso ao ver pela primeira vez a sua imagem – vejam, que belo moço que lá se estampa, estará solteiro?    
Vai o Carlos e rodeia-me de mimos no Transeatlântico, até um queijo me mandou por fax.
A seguir a marralha de Setúbal, boa terra do Bocage, onde os erres dão flor, desnaufragou-me em ilhas onde quem faz vénias ao vento (que é o meu caso, é o meu vício mais entranhado) recebe cálices de vinho de palma: sura – como se chama aqui.
Do outro lado do planeta, A Bela Bípede Falante (vi-lhe o palminho de cara no blogue do Tuca – será solteira?) envia-me plumas,
e a Izabel Lisboa escreve-me com a maciez das avelãs,
e ainda por cima o Tuca Zamagma, o Grande Desinformador, Desinquisidor Mor em terras de Guarani, faz uma das coisas mais bonitas que me tem sido dado visitar: convida dezoito esferográficas a manufacturarem um naperôn de homenagem a uma jovem, a Raíssa, que faz 18 anos. Eu, se tivesse recebido um estímulo destes aos 18 anos, tinha-me tornado Rimbaud. É confirmar, meus senhores.
A canalha humana ainda não está perdida. Agradeço-vos a notícia
Fica por resolver o mistério do meu amigo aparecer sempre de costas nas fotografias. Mas como para logo tenho reservada uma garrafa de Macieira velha, há-de o casco da aguardente fazer-me navegar em arquipélagos onde as respostas caem das árvores.
E com esta cá me vou, emendando a chuva.
E chega de carinhos, ó canalha – o carinho mata, ouviram?

1 comentário:

  1. Caríssimo, Aqui estou eu, sem sair na foto, pra não variar. Mando-te uma, por mail (claro), onde nem sequer apareço. Uma vez mais, era impossível tirar a foto e figurar nela ao mesmo tempo. Não sou, nem pretendo ser, Oliver Benji. Embora, consta-se, este jogava melhor à bola que Jeová. Barcelona? De mal a pior, os mossos de esquadra estão descendo bordoada em tudo o que mexe na Plaça Catalunya, com a desculpa (clínica) da limpeza. Ontem, e pra imitar o guarda-redes espanhol do Benfica, saí mal na fotografia. E ainda bem. Falando nisso (futebol, religião, limpezas), pergunta ao tal Núrio, se eu não aparecer logo para jogar bilhar, como ele se sente depois de tudo?
    Enfim, passo por cá, de passagem, só pra te mandar os parabéns pelo lançamento de amanhã e também pelo Mandrake. É um grande trabalho, que pede atenção, mimos, bons leitores e muitas leituras. Estou tentando fazer a minha parte, e já comecei a relê-lo.... é só não pude continuar por questões que vão por mail. Prefiro assim. Nada contra as novas tecnologias. Mas prefiro deixá-las para os poetas.
    Abraço e bom lançamento

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