Jindrich Sreit
Da infância, lendo Hugo Claus
1
O chapinhar
das ondas, o lamiré perfeito.Beijá-la? Galvanizar o ninho a ser roubado.
2
O viçoso tapete verde, de um extremo a outro, tem para cima de dois campos
de futebol. Pela alba, o orvalho reanima o luzeiro.
De súbito, a sola humedecida pisa o cabide, laranja como um argueiro. E sobre ele, periclitante, indecisa, a joaninha.
3
4
aprendíamos que nada nos era destinado; mínimos e fugazes pingos de sangue
na neve. Às vezes alguém levava castanhas e as mãos estalavam, «quentes e boas».
5
da mó enterrada no chão.
Até que - já não lembro quem – um de nós jurou que a mó lhe lembrava o olho de Deus.
6
O entrecortado marulhar do ribeiro distraía-nos e não raro estrelejavam sapos sob as nossas solas, em barda naquele rincão.
Cinquenta metros depois a conduta do esgoto cortava as águas e marcava o início da cidade.
Não havia figueira como aquela, oblíqua, enclavinhada no rebordo dum socalco
- do seu tronco dependurava-se um cabo, a nossa liana de Tarzan.
Miúdas, futebóis, ofensas mortais e o planeamento do desforro, sob o seu pálio
governava-se o mundo, fumavam-se as primeiras beatas.
Ainda as auroras não tinham rugas.
Reguadas e ponteiradas: eis a prévia condição para tornarmos ao cói,
isolado pelo canavial do desconcerto do mundo.
Já deitávamos as beatas na caixa das esmolas.
9
não deixava dúvidas: caíria na Mata dos Medos.
Revezámo-nos toda a semana, aos pares, e a batida
foi extensa e supervisionada pelo fragor do mar.
Mas a mata conservou fechados a sete chaves os seus segredos.
Na busca, recolhemos o Tripé, um cachorro a quem a maldade
humana havia decepado uma pata e que em nós achou
um centavo de ternura.
Até que alguém lhe chegou o isqueiro.
Bert Hardy
10
Entre outras proibições, era-lhes
vedado comer vagem ou coração, ser o primei-ro a cortar o pão ou autorizar que
andorinhas fizessem ninhos nos seus tectos. Pitágoras não transigia.Eu, todas as Primaveras aguardava com excitação que as andorinhas fizessem ninho na nossa varanda. Virá daí a minha enferma antipatia pelos números.
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À segunda, o meu falho aproveitamento escolar encolerizou o meu pai, que mandou a caixa de sapatos e os seus oito favos pela janela, lapidados de imediato por uma chuva a rodos.
Não tentei mais, parecia-me a natureza tão frágil!
Gosto da tatuagem da luz nos instrumentos de cobre.
15
Há anos que não lhes aceno, há décadas que morreu aquele dia.
Só o rio permanece insolúvel.
16
O que é um
poço? Desdenhávamos, até o primeiro cair no seu negrume.Batia o dente quando o tirámos a cavalo num balde de zinco puxado por dois homens.
De lá de baixo, jurava, as cabeças tinham auréola.
17
À noite
pareciam-te plátanos e de dia recortaram-se: eucaliptos. Também a luz que te devasta o rosto o sulca de enganos.
18
Repentinamente,
o vento alivia o garrote às acácias.
19
Surpreendido
e só, na capela, ouvi primeiro o ecoar invisível e depois, verde, a locusta
triunfante de banco para banco.
20
Na ânsia de
irisar a sua noite, a ostra cria a lua.
22
Quando vier
o granizo vergastar os pomares, partilharei desta vez um aquecido silêncio de
castanhas no bolso da gabardina, uma camisola de lã grossa, com moinhos, e uma
surpresa que acene e resguarde o riso e os gestos dos mistérios da chuva? Ou será, again, a brasa que se apaga, o pavio de uma solidão antecipada, tomar
café, fixando nas borras uns olhos pretos tristes, e na vidraça o tear fúnebre da paisagem liquefeita; bater, perdidamente bater no teclado para que não gelem as mãos?
23
Dedaleiras
sim, vi-as, cheirei-as, toquei-as, às dezenas na Arrábida, num acam-pamento em
que me fartei de namorar. De resto, tive sorte, nunca me seguiu o brilho estridente dos milhafres.
lindas estas clássicas codornizes
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