Oito da manhã. Como a Jade é muito senhora do seu nariz, saiu da banheira, direita ao nosso quarto e sentenciou:
- Mãe hoje quero ir ao cinema e depois ao parque aquático…
- Hoje não pode ser... - disse a mãe, e nada mais adiantou.
Ela desatou a rabiar zangada.
Eu tentei explicar:
- Não pode ser porque estamos no fim do mês, no fiozinho da areia antes do pai e a mãe receberem… não há mola, entendes miúda?
Não se deu por vencida. Foi ao quarto buscar o molho de desenhos que tinha feito para a mãe no Dia da Mãe e ameaçou:
- Se não me deixas ir, amachuco esta coisa toda, até ao fim do mundo…
- Pois… - desvalorizou a mãe…
- Ai é!? Então vais ver… - e desatou a amarrotar os desenhos um a um. Depois fez uma bola de cada um deles e atirou-os contra a porta do armário, resmungando para a mãe – Toma, espero que fiques com dor de cabeça…
- Isso não se faz… - digo eu…
- Ai é, e tu… vou-te rasgar as fotografias todas até ficares maluco…
- Como é, rosno eu?
- …depois de Deus morrer… é o que vou fazer…
- Emendaste-te, senão teria levado uma palmada nesse rabo que até vias estrelas…
- Está dia… - responde-me pronta, pondo-me a língua de fora…
- Não vais ao cinema porque vais a casa da Amélia, ou esqueceste-te? – lembra-lhe a mãe.
A ira passou-lhe de imediato. Correu para o quarto para se vestir e estar pronta para ir com a Amélia, a nossa empregada, à sua casa nos subúrbios, onde iria brincar com os filhos dela, o Todinho e o Marcelino.
Batem à porta, é a Amélia.
Sete da noite. Regresso a casa. Conta a Amélia:
- Senhora, ela pôs-se a brincar na varanda com o Todinho e o Marcelino, ou a correr à volta da casa… e às vezes entrava na casa, olhava-nos e dizia, “isto é que é vida!”. O meu marido fartou-se de rir…
Foi ontem, sábado, mas conto hoje. Isto é que é a vida.
Isto e que vida, ter nada a ver nas magicas caixas da tv, e ver belíssimos textos no seu blogue António Cabrita, fraterno abraço do Mauro.
ResponderEliminarsacree Jade!
ResponderEliminar