O
NÓ DO PROBLEMA
a batida do meu sangue. Julgo-te atrás de mim
e desfechas à minha frente um mar de assoalhadas,
és o pavão que abre o leque e recolhe a paisagem.
As formas
encobriam a realidade. Antes de ti.
Antes de
ti, antes da compreensão de que a pele é a ombreira
onde a que
mira o horizonte trinca a maçã reineta.A tua dentada na polpa que me adoça.
Não há
memória nem passado. Há a forma como cantas
e o aceno
de te escutar. Modos de evasão
que crescem
para dentro.
Antes de
ti, só nos objectos despertava. Na extensa respiração
dos
talheres. No bocejo dos anéis. No jogging dos ponteiros. Antes de ti, na ponta dos dedos
nascia uma ilha. Ataduras que isolam.
a mão do
outro e faz uma descoberta: “este é o meu corpo”.
Transmite
ao outro a equação, explica-lhe que combinações realizou a fim de obter o resultado. O seu companheiro
deve ter confiança no que está a receber. Mas
recolhe uma informação em segunda mão.
Então toca na mão do outro e repete: “este
é o meu corpo”. Depois toca-lhe o braço.
Etapa a etapa trocam de lugar. Então despertam.
e a minha boca é presença a si mesmo.
Por cima da amendoeira os cirros, debaixo a carne,
sobrenatural, que me restaura os dedos
como à água nas cegonhas o voo.
batem portas no meu espírito.
A tua ausência escarpa o ar, pesa ancestral
nos reposteiros, ilumina a sujidade
dos abat-jours, ressoa nos livros inertes
como palha, sorve o silêncio da casa, atento
inconfidente a si mesmo – pela primeira vez
imaterial. Aquietar o coração se nada na sensação é fixo?
Só o olho da rã acompanha a velocidade dos movimentos
em ziguezague, hipótese que Deus me sonegou.
A minha intimidade (a tua pedra
de toque) migra e arde a Oriente.
PARTIR, O FORMATO LÍRICO
Será
possível que o meu corpo
tenha
afinado a lupa que a tua pele refractava?
É esta a condição do homem:
a sua fronde não esgota
o ciclone, a sua inclinação
para a morte não desabitua
a Primavera. A estação
dos outros, quando não estás.
Eis-me afeito a partir.
Já não receio ferir-me no cabo
em marfim do destino,
no vestígio vivo que alumia
o passo no gume da manhã.
Reencontra-a
após cinco meses
de lameiro
como vegetal irregular,e interroga-se: “amo esta mulher,
que frutos arborescemos juntos?”
Abraça-a, enguia miúda, e espanta-se
pela sua nova madeixa branca (o que só
lhe realça os olhos), enleado na doçura
do sorriso com que ela armou o laço
à sua alma apardalada. Imagina-se
fora de toda a distância, sobre a pele
das Índias, como alguém que é orfão
e ao amor pede desplante: o lúbrico
e paleolítico estoiro das fronteiras.
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