segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A REPÚBLICA E OS SEUS ESGARES



O pavor da Republica é que já não consegue convencer os seus filhos dilectos ao desmame. Isso reflecte-se no fácies de alguns: reveja-se o esgar vitorioso de Cavaco Silva, que nem mesmo no desfrute final teve a grandeza de evitar o desabafo mesquinho, o gel do ressentimento, e o esgar aprendiz de Louçã: cá me fazem cá me pagam - vamos reflectir sobre isso, prometeu ele.
É um país de que pólo a pólo já só tem esgares. Tique facial provocado pelo vício, no lácteo doping da República.
Quem também não tirou a persona, nem mesmo quando anunciou a sua vitória simbólica, foi Fernando Nobre, num rito de impersonalidade.
Mais enfiados, “o” candidato vencido, e aquele que afivela um sorriso de ocasião para todos os momentos em que, por insistente solicitação, lhe pisam os pés, don Xosé Sócrates. Porque se não foi a seu pedido que o sistema com o novo cartão eleitoral falhou, parecia.
Extraordinária foi a explicação de Rui Rio para a derrota do autor de Trova do Vento que Passa: o país não gosta de madraços que nunca trabalharam, prefere os que sobem a pulso. Fazer versos é como se sabe um fruto do ócio, nada que se compare à transpiração e à presciência de quem se mata a trabalhar até à adivinhação final: onde aplicar o dinheiro com lucro. Uma habilidade, confessa Rui Rio, que não teve. Ainda bem que é honesto e aplica o seu dinheiro e não o público, que gere.
Uma noite, inesquecível. O único rosto humano que por lá vi, foi a da ártica tristeza de Manuel Alegre quando assumiu a derrota. O seu problema é que era de há muito uma ave esquecida do riso (- quando é isso te aconteceu, ó Alegre?), e a virtualidade do seu imenso país republicano arrancou-lhe o resto das plumas.
Que regresse ao seu programa minimal: os versos. E deixe a política para as fluorescentes máquinas de esgares que a tutelam.

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