Parece que há cheias de novo na Zambézia, a questão está apenas na escala que as coisas atingirão desta vez. Prometi a mim mesmo que me escusaria a comentar, neste blog, as chãs peripécias de Moçambique, mas convenhamos, só há cheias de forma tão repetida quando, numa lógica quase perversa, se descuida prevenir os erros para que se foi avisado. A natureza é ingrata, mas o homem ajuda.
Em 1997, na Etiópia, vi o chão prensado pelo peso das vacas. É uma valência social, pois o status e os sinais de riqueza medem-se em cabeças de gado. O resultado é um solo tão prensado que fica polido e não deixa crescer erva. Com a perda da sua porosidade, a terra nem aceita semente nem absorve a água, que desliza como por um corrimão até ao Nilo. Portanto às chuvas fragosas seguem-se violentos períodos de seca, pois entretanto, nunca se planificou uma política da água: o país não tem barragens, cisternas, nada que retenha a água. Em nome da tradição, os governos etíopes nada fazem para mudar as mentalidades dos camponeses.
Ao lado, a 60 km da costa, do outro lado do Mar Vermelho, fica o Yémen, a Arábia Feliz. E das coisas que espantam naqueles riffs transformados em hortas e em pequenas comunidades é descobrir, nos sítios mais inesperados, cisternas, que garantem a retenção da água, um bem precioso por ali. É uma tradição milenária.
Os vizinhos do lado é que não aprenderam nada, em dois mil anos de convívio. E entretanto também são devassados por cheias e secas a um ritmo que estonteia os media.
Quando Moçambique deixar de ser tão politizado e estiver mais preocupado com as soluções técnicas para os problemas talvez aí se tomem as medidas necessárias a evitar esta sangria periódica de bens e vidas.
POST BY António Cabrita, Foto de cisterna em Manakha, Yémen
POST BY António Cabrita, Foto de cisterna em Manakha, Yémen
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