BREVE REFLEXÃO SOBRE A MORTE
Agitam-se alguns
como se ainda não tivessem nascido.
Entretanto um dia
Williams Burroughs, intimado por um estudante a dar
opinião sobre uma
eventual vida póstuma, replicou:
- Mas quem lhe disse que você não está já morto?
O ‘scrito acima é de Miroslav Holub, um poeta e eminente imunologista checo (que verto da tradução francesa, da Circé), a quem a especialidade não resguardou da visita da morte, em 1998 – sendo ainda um jovem, de míseros 75 anos.
Seja como for, sugere o poema, estamos sempre desconectados, num estado de extenso sonambulismo, e pouco nos é dado fazer, para além de nos agitarmos demais ou de fazermos perguntas desnecessárias, ie., rebarbativas: póstumas.
Talvez possamos aceder momentaneamente à consciência que nos cede o poema, num breve interregno, ao flagrante de uma sintonia, mas estou certo de que Holub, ainda para mais com a sua especialidade, não declinou num assédio de consciência: foi mais à má fila, por um efeito adverso.
As coisas sórdidas em que nos debatemos numa ressaca de eleições.
Talvez seja culpa do quadro do Tàpies, que se chama «Cruz e Terra».
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