Chamava-se Laura, pediu licença, e em plena aula de Estética
- o que os marmanjos depois me crivaram de perguntas -
estendeu-me um papelinho dobrado em quarto:
«Jantar em minha casa, hoje, às 20 horas».
Era em Benfica. Ela era do Porto,
e tinha do seco em casa, uma garrafa por abrir.
Foi o que me aliviou (cobarde) de puxar a carroça do sexo,
degluti-a até ao último pingo, como se o dilúvio não houvera
parado de durar, e aquele vinho espesso rolou no meu sangue
como bolas de canhão. Aguentou o despautério com uma elegância
que me tornou num velho mandarim a depreciar a lua de Verona.
Nunca me arrependi o bastante, ou pelo menos da forma sentida
que revertesse num cacho um copo de vinho.
É dela o livro de Brecht que agora folheio, trinta anos depois,
e que nunca lhe devolvi, matreiro.
É a Laura Osório, quem conhecer que lhe diga
que sempre estarei reconhecido à sua amizade,
que toda a vida lhe invejei a capacidade para amar
neste baixio de repolhos e piolhos de dúbia face
de que nos coube ser contemporâneos…
e que francamente lamento, como na lenda de Evlyn Roe,
não ter sido um capitão deitado no seu seio…
o capitão Petrarca, que menos não merecia.
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