quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A PELE EM QUE EU HABITO


                                                                                                                        para o Jorge Sousa Braga 
A pele que à minha frente desagua é, afinal, uma fuselagem.
E estas não são umas costas mas um dorso insuflado por uma materialidade animal - eis massa que não autoriza dúvidas sobre o cansaço que pode permear o acto amoroso.
De um castanho que roça o vermelho.
Newton, olhando para tamanho dorso, não necessitaria de qualquer maçã para adivinhar as leis da gravidade.

Calculo-lhe os seios, duas meloas do Entroncamento, e as pernas em alicate sobre as nádegas do amante, a fazer transbordar o mais prevenido dique.

Rubens mora momentaneamente na minha retina, um Rubens pachola, embevecido pelo pataco que dá carne à cor.

Uma mulher assim tem de ser amada numa suite, ainda que desconfie se ela conseguiria encaixar os glúteos na banheira com jacuzzi. Uma mulher assim exige, no mínimo, por segurança, três corvos de
colarinho branco.

Dois vietnamitas pedem para se sentar, mas felizmente metem-se nos vértices da mesa, mantendo aberto o canal que culmina naquele estuário.

A criança que veja afastar-se as costas perladas de humidade desta mãe não pode pôr em dúvidas que Deus existe e que tem poros por todo o lado, parcelas e somas.

Senta-se outro vietnamita no vértice que ficou nu.

Inesperadamente, ela volta a cabeça para olhar para alguém que entra no bar e surpreendo um rosto
delicadíssimo, no topo de tão sumptuosa massa, como se fosse um selo com elegantes flamingos sobre uma carta para Estaline.

Os contrastes que, de viés, velam a natureza.

Os vietnamitas parecem contar entre si uma anedota e riem muito.

Trás-me outra preta!


ps. há dois dias que não consigo meter uma imagem nesta bodegada, alguém me explica?

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