quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O VENTO É O MEU SEGURO DE VIDA

                                                                         titos pelembe
"Eu sou inteligente porque venho de África e não porque sou africano "
Bento Carlos Mukesswane
Apanhei esta citação no site da Muvarte e há horas que olho para ela sem saber como a traduzir. Puro embasbaque.
Num português cá à maneira seria “Eu sou inteligente porque venho de África e não porque seja africano”, mas não é isso que me chateia. Aliás, não me chateia, apenas me intriga.
Que quer dizer esta coisa ?
Faz-me lembrar uma conversa que tive uma vez com uma amigo de quem gosto muito mas que tem um tracinho de racista e que estava excitado naquele dia porque, dizia, os gajos que estudam o ADN descobriram (o que era falso, mas ele ainda não sabia) que a raça negra tem em média menos cinco por cento do QI. E então saiu-me: ah, mas isso parece-me muito pouco, estou farto de conhecer pessoas com mais vinte e cinco, trinta por cento, de inteligência que eu… tu não?  
O que é que a inteligência tem a ver com as raças ou os continentes?
Existem naturalmente sistemas sociais mais favoráveis a que ela se desenvolva espontaneamente do que outros, mas sempre haverá quem (ir)rompa, em toda a parte.
Merda para as raças e os sentimentos nacionais.


Entro hoje oficialmente de férias. Ainda tenho de dar notas e suportarei ainda uma por outra reunião mas o que interessa é que psicologicamente fecho hoje a cortina.
Finalmente, dois meses a ler e a escrever apenas o que Deus (que é ateu) manda.
E a traduzir a Luisa Futoranski, uma argentina que tem poemas de truz!
E a dar de beber às Raposas, que andam mancas.
E a arear as orelhas nos ditos das minhas filhas - com elas é sempre o Dia Mundial da Serpentina.
E a preparar coisinhas que nem digo, nuvens de aveludar o olho.
E o melhor de tudo: dois meses em que volto a sentir que sou mortal, que posso morrer amanhã, sem planos analíticos  a cumprir, apesar da minha preclara fragilidade.
Primeira tarefa escolhida: reler o Liberalismo – antigo e moderno, do Merquior. Today.
Tomorrow, fazer notas à margem dos ensaios sobre literatura de Orhan Pamuk; no intervalo proceder a escavações nas tripas dos caranguejos que já mandei comprar.
Isto é que é uma feliz vida de pobre desabonado de reforma, da simples ideia.
E não posso esquecer-me de explicar à minha filha adolescente que nunca se deve deixar convencer de que tenha de negociar com a “pureza” de alguma coisa.

“mar bom de dólar” : há expressões do catano.

Conheci uma pessoa estimável que me disse odiar a sensação do vento no cabelo, de sentir que à sua volta se emaranha o ar. Comigo é ao contrário, não quero outra coisa. O vento é um dos meus fascínios, uma das poucas coisas que me deixa absolutamente seguro.


1 comentário:

  1. Cabrita: não conheceste Bento e não estás a apanhar o que o tipo, uma maravilha que diria, mais do que tu, e como está explícito (foda-se, está explícito e não implícito, na frase) que se fodam raças e afins. Eu sou inteligente porque tenho caminho, não porque sou um de um sítio. E depois, levanta lá o pedal do senhor doutor, que caralho importa o seja ou sou, ó Sô guarda sinctáctico temos que censurar o coloquial?, temos que afivelar a merda da re-gra-zi-ta

    Estás mal aqui, mesmo muito. Não na pobre desintrepretação, que até pode ser contextual. Mas no policialismo

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