sexta-feira, 13 de junho de 2014

COMENTÁRIO A ANTES QUE TE ESQUEÇAS NÃO ESQUEÇAS

                                              MIRÓ, EM HOMENAGEM A MELO NETO


 "A poesia ensina a cair”, escreveu há semanas Luís Carlos Patraquim a propósito de Bagagem não Reclamada e de repente, depois de ter escrito Antes que te Esqueças não Esqueças, desce sobre mim a evidência de que é muito raro que vivamos a nossa morte, gastando o grosso da nossa vida a desejar passar o umbral à boleia, se possível clandestinos, incrustados na ilusão de que assim nos seja facultado regressar.
Uma morte de empréstimo seria o crime perfeito que o nosso consciente organizaria, sendo o papel da poesia desenganar-nos, resgatar-nos das falsas vias e motivar-nos a enfrentar o cerne dessa experiência indelegável. 
Porque, apesar de não haver saída, a dignidade de compor a meia diante do pelotão de fuzilamento distingue-nos da massa, torna nosso esse momento, impõe ao anónimo estupor da violência a presença dum rosto, o peso da nossa vigília, como quem entra por decisão morte dentro e não por engano dela.
Mas este gesto só nos habilita se executarmos o grito até ao fim, em vez de fugirmos à dor da sua trepanação.


Pequenos Projectos para Adorno das Inteligências Subtis, o belo título que fui pescar num ensaio de João Cabral de Melo Neto sobre “composição poética”, uma daquelas reflexões seminais que lida na devida altura nos faria poupar décadas de equívocos e nos mostraria como é improfícua e patética a guerra entre gerações, não mais que um momentâneo ardil para nos afastar do essencial.
Neste ensaio, ademais, levanta-se uma distinção que me parece crucial, a de que existe uma poesia que se lê mais com distracção de que com a atenção.
Não preciso de dizer que estou do lado do cultivo da atenção.
Está dito.



É espantoso como se têm multiplicado o número de séries televisivas de sucesso que andam em torno do trânsito e contágio entre mortos e vivos: Contacto, ou Médium, por exemplo. Para já não falar da verdadeira obsessão com vampiros ou zombies que se manifesta a qualquer exercício de zapping.
Não percebo como ainda se diz que a civilização ocidental padece de um excessivo racionalismo.
Há que livrar Descartes da calúnia.


Detenha-mo-nos nas circunstâncias:
cinco a um levou Espanha da Holanda. A Espanha não caiu de pé, caiu deitada. Estava como eu, de borco, que não vi o jogo. “Eles” também não, pelos vistos. Explicou um antigo guarda-redes que o Casillas não estava presente no jogo, que isso se via pela linguagem corporal. A inteligência às vezes também habita no futebol. O Mourinho já tinha visto isto, as “ausências” do inquestionável  guarda-redes.  Del Bosque não, até hoje.

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