domingo, 7 de junho de 2015

SÓCRATES, DE SATIE




Ao soutiã de Sócrates
não o herdou Alcibíades.

Aros quebrados pelo uso
de fatigados rios
que já não aguentariam
uma truta desaustinada

quanto mais amantes
de cabelos cacheados
e de inapetecíveis apelidos
como Escambónidas.

Amar para situar a tristeza
das elipses, o fruste
clamor dos deuses
que desovam no mar,

sobre a carapaça d’
uma distraída tartaruga
que se  aparta,
é vã fortuna.

O soutiã de Sócrates,
a célula 44 no presídio
da sua alma, espera
talvez pelo primeiro-ministro

do Luxemburgo. Qu’
os pomos de Alcibíades
não lhe faziam jus.
Nem por sombras.

Menos ingrato, mais
descansado fiquei
pois nunca correr eu quis
com os calções de Carlos Lopes.

A cada um os seus
fadários.  Sangue seco de batalhas.
Torpe me contento numa visita
à Feira da Ladra

em passo de lesma,
com taberna pelo meio
para no manso beberico dum tinto
espreitar a primeira edição

comprada a um tanso.
Uma vez troquei
um canivete suiço
pelo Sócrates de Satie,

onde o músico abandona
os ginásios e arma-se
ao pingarelho.
Acontece aos mais míopes

quanto mais aos menos.
E ao soutiã, quem no leiloa?


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