Seráphine
Em dado
momento, estive para fazer acompanhar a narrativa O BEIJO NO ARAME (um dos dois corações de «Éter») de três contos
mais curtos onde retrataria, “supostamente”, o meu pai, um tio e o meu avô,
três figuras muito presentes na minha infância e que raramente surpreendi em
manifestos gestos de ternura. Não quer dizer que tal não pudesse acontecer, mas
o mais vulgar era a retranca, o pudor.
E, claro,
em todos os contos misturava-se a descrição de alguns acontecimentos inspirados
na realidade e o que inventei livremente, num vislumbre que nunca poderá ser
“puro”, pois não cabe à literatura a tola pretensão de iluminar o retrato de
alguém, e antes lhe é inerente realizar uma liga em que a dosagem equilibrada
de plausibilidade e mentira acaba por traduzir uma certa confiabilidade
narrativa.
Ou seja,
estas personagens, recriavam mais a atmosfera da época e do carácter, às vezes
violento, que esta imprimia às personalidades do que procuravam ser lidos como
réplicas exactas dos meus familiares.
Este jogo
e esta ambivalência é que fundam a literatura. Nada foi assim exactamente mas
tudo “podia” ter sido assim, propriedade que Aristóteles atribuía à “poesia”,
na sua Poética.
Depois de ter recuperado um computador que julgava perdido, reli então, ao fim de três ou quatro anos de "gaveta", este conto sobre o "meu avô", e aqui o deixo:
A CICATRIZ DE DEUS
1
Quem me vir agora, em anorexia pilosa,
compreenderá porque ainda hoje te invejo o farto cabelo solto, seda a que o
vento emprestava uma asa de corvo albino.
Via-te no parque, em miúdo, sem ousar falar-te
ainda. Descia as escadas para o jardim e corria até à bica. E reconhecia-te num
dos bancos que a ladeavam. Atrás dos papos que te escondiam os olhos piscos,
adivinhava um olhar benevolente, embora nunca tivesses desarmado nem o pudor
nem o seu muro.
Nunca me incitaste a dirigir-te uma palavra.
Depois, fazia chiar o portão do parque, pagava à
tosca da vigilante (havia lá camafeu mais horrível!) os cinco tostões, o
pescoço torcido na tua direcção, na esperança de que me tivesses seguido pelo
canto do olho. Fazia o mesmo quando subia ao escorrega, lá de cima, antes do
impulso para a descida sondava o teu grau de atenção aos meus movimentos. Davas
à palheta com outro reformado, apaparicavas uma mulher da tua idade, numa
macaqueada animação trivial – mas nunca olhavas para mim.
A primeira vez que te vi foi no lago do jardim. A
minha mãe sentava-se no pétreo banco em semicírculo que serve de rodapé ao
painel de azulejos de Cargaleiro, e eu corria à volta do lago: um desenfreado
cometa com uma cauda de pombos. Atirava o milho para trás das costas e fugia,
excitado e temeroso, enquanto um magote de aves espanejava o ar, debicava-me os
ombros.
Acabado o pacote sentei-me ao lado de um velhinho,
na outra ponta do semicírculo. A minha mãe teve uma expressão de dissabor. Eu
catava um último grão de milho, e o idoso estendeu-me a mão com três,
embrulhados num sorriso. Aceitei-os, e atirei-os aos pombos, que calcorreavam a
borda do lago. A minha mãe levantou-se e firme, embora compassiva, pegou-me na
mão e silvou boa-tarde para o idoso.
Seguimos num ritmo musculado e subíamos a escada
do jardim quando ela anunciou, aquele é o teu avô.
Só pelos nove anos, já eu ia sozinho para o jardim
há pelo menos dois anos, é que me dirigiste a palavra: então toninho, dá cá uma
bacalhoada! Entretanto, eu fixava-te do alto do escorrega e vinha-me, salteada,
como o bouquet saído da cartola do
ilusionista, a dúvida - foi mesmo ele quem espetou uma faca de mato na avó?
A cicatriz não deixava dúvidas. Entrevia-a sete,
dez vezes, entre a alça da combinação - um bom palmo de farpas. Uma vez
pedi-lhe, avó, deixa tocar. Foi a única vez que lhe toquei nas costas, na linha
das omoplatas, na cicatriz; foi a última vez de que me lembro de lhe ter visto
quase as costas inteiras, de uma ofegante magreza moldada em parafina.
Habituou-se a fechar a porta quando vinha do
banho, ou a apagar a luz antes de vestir a combinação, apesar de eu dormir no
quarto com ela.
Às vezes pergunto-me se ela não me queria
enlouquecer com a sua fantasia sórdida, fúnebre, acordando-me a meio da noite
para me perguntar se não ouvia os espíritos a arrastar correntes no corredor ou
se não divisava as figuras que ela via no escuro. Anos a fio. Era tremendo,
mas, hoje, nada me é tão real como o toque naquela cicatriz, áspera,
encordoada, que se lhe derramava pelas costas como um promontório; nada havia
de tão concreto naquele quarto que se assemelhasse às costas dela na penumbra e
ao meu conhecimento de que aquilo
estava ali, emaranhado na sombra, selvático, como o mexilhão na pedra.
Entre o jardim e o ginásio havia uma loja para
artigos de caça e pesca. Todos os dias parava na montra a olhar as diferentes
facas de mato expostas, a avaliar a espessura, o gume, a dureza do aço, se
consoante a penetração e a incidência o sangue sairia aos esguichos ou borbotões,
ou como um manto. Anos de secreta inquirição.
E um dia, não longe daí, vou a entrar com o meu
pai no mercado e tu estavas lá, à entrada, apoiado na bengala, ao lado da tua
mulher, a Natividade, a merda da coxa
como a minha avó a tratava, que segura um saco com cabeças de corvina. O meu
pai detém-se e cumprimenta-vos, sem brandura nem desdém, e tu apontas-me a tua
mão larga e os cinco dedos abertos em espátula: então toninho, dá cá uma
bacalhoada!
Porém, as coisas só se começaram a desanuviar anos
depois. O meu pai havia comprado um terreno na Aroeira e, pobre, e desasado em
qualquer ofício, há-de precisar de dois auxiliares preciosos para a construção
do seu refúgio de fim-de-semana: de mim, como aprendiz de pedreiro (o que eu
hei-de odiar aquela garagem com primeiro
andar e vista para o pinhal) e de ti, como verdadeiro artífice dos sete
ofícios, o único arquitecto e mestre-de-obras daquela construção, a que nem o
teu reumático tolda a precisão e o engenho.
Eu teria doze, treze, anos e odiava ser tirado da
cama às cinco da manhã para apanharmos a carreira das 5h30 para a Fonte da
Telha, parar a quatro quilómetros do terreno e embrenhar-me pinhal dentro,
encalacrado de frio, batendo os pés contra a caruma, enquanto o caliginoso
silêncio do me pai me precedia. Bufava e interrogava-me, no sem sentido
daquelas sendas, como podia o meu pai perdoar-te. Sim, porque ele vira, ele estava no quarto no
momento do acto. Não sabia ainda que a vida é um novelo tão emaranhado que
acontece reencontrarmos na volta mais inesperada o fio do perdão.
Quando chegávamos lá estavas tu, enfiado ainda na
tua carripana; aquela geringonça que montaste com peças desirmanadas de mota,
uma gaiola metálica, restos de lona, e duas rodas de lambreta, um verdadeiro
riquexó motorizado - o único riquexó nos anos sessenta, em Lisboa e arredores,
e que à mera passagem me enchia de vergonha. Tiravas então as luvas, as mais
carcomidas luvas de cabedal de que me lembro ter visto, apontavas com o queixo
os caboucos e os tijolos e prometias, hoje temos trabalho toninho.
E deus me perdoe se eu não te mandava para os
entrefolhos da tua mãe naquele mesmo instante, o espírito errante, furibundo,
sentindo aflorarem nas veias as primeiras lâminas de xisto. Mas batia com os
pés na caruma e procurava ouvir os pássaros, prometendo não perdoar nenhum
lacrau naquele dia, esmagar com o sacho a mona de um rato.
Bebido o café começava a jorna.
2
- … Vê lá se os miúdos não estão a ouvir…
- Estão a dormir…
- A porta está bem fechada?
- Tá…
- Tanto melhor, eu não quero que o toninho saiba
alguma coisa disto…
- Mas disto o quê?
- Do que tu sabes e não queres falar…
- Ai… já me estás a enervar… do que é que estás a
falar…
- Das reuniões que o teu pai faz lá na Aroeira…
- Que reuniões? É do culto. Conheceu lá uns
rapazes nas obras que têm o mesmo culto que ele e pediu-me a casa emprestada
para o culto, enquanto eles não arranjam outro lugar…
- Mas que culto, António José? Tu que nem
permitiste que os teus filhos fossem à catequese…
- É o meu pai, não lhe podia dizer que não.
- O teu pai que te desgraçou a vida.
- Águas passadas…
- Tu não vês que não é culto nenhum… fui lá ontem
buscar umas hortaliças e fiquei em estado de choque com o que encontrei debaixo
da cama…
- E que é que encontraste debaixo da cama?
- Uma caixa com armas, para cima de trinta
espingardas… não sei que culto é esse…
- Eu vou falar com ele, só pode ser engano…
- Engano? Eu vi.
- Ele só anda na igreja…
- Que igreja precisa de tantas armas?
- Se calhar pediram-lhe que as arranjasse, ele
arranja tudo…
- Sim, panelas, bicicletas e motores… e agora
gatilhos… abre os olhos, António José…
- Mas de que falas?
- Não vês como ele ficou alvoroçado por causa do
25 de Abril… com a subida ao poder do Vasco Gonçalves? Aquilo mexeu tanto com
ele que até lhe curou o reumático…
- Lá isso foi… - concordou o meu pai, rindo –,
anda num virote político, mas ele tem 70 anos…
- Sim, e foi da Legião Estrangeira… e foi um
salazarista encartado, e teve dez anos de cadeia…
- Isso foi por causa da minha mãe…
- …onde conheceu toda a escumalha do mundo…
Garanto-te, António José, ele anda a preparar alguma… e não é boa. Sabes
quantos homens o teu pai mandou para a cadeia? O teu irmão Joaquim nem lhe fala
por causa disso…
- O meu pai? Não é certo que ele fosse da Pide…
- Tu não queres é ver… ó homem abre os olhos antes
que ele nos traga cá para casa a desgraça. Tu não vês como anda o país, uns
contra os outros… só nos faltava o teu pai a preparar qualquer golpe ou a
querer matar um comunista… vinte e tal espingardas, António José…
- Vou amanhã falar com ele…
- Não vês que perdemos tudo? Levaste três anos a
construir aquela casa… é tudo o que temos…
- Já disse, vou amanhã falar com ele.
Eu, atrás da porta, estava zonzo. Levantara-me
para ir urinar, ouvira-os cochichar, e nada atrai mais do que um segredo que
procura esconder-se. O que acabara de ouvir atordoava-me sobremaneira porque no
último ano e meio tínhamo-nos aproximado muito, eu e tu.
Com a queda do fascismo houve em ti uma mudança de
comportamento, de repente estavas mais expansivo e loquaz. Como me explicavas,
as tuas veias tinham entrado em degelo. Permanentemente alerta e à coca com
tudo. Deixaste o jardim, onde te reunias com outros reformados, pelos cafés,
pelas reuniões políticas. Juntavas – havias-te tornado evangélico nos últimos
anos - Cristo ao fervor da mudança política. E se naquela altura era difícil
propor sequer uma aliança semelhante!
Rejuvenesceste dez anos e entregaste-te ao
trabalho social voluntário. Uma guita desatara-se em ti e desfiavas histórias de
heroicidade militante e clandestina que me assombravam. Em 73 e 74, inclusive,
garantias-me, a casa da Aroeira servira de esconderijo para “camaradas” que
precisavam de dar o salto, ou de esconder-se. Sem que o meu pai soubesse, era
um segredo nosso, obrigaras-me a jurar.
Eu tinha 16 anos e precisava de heróis. Sentia que
pertencia a uma geração a quem fora roubada a revolução, a heroicidade e o
sacrifício, uma geração pós tudo e bastante desapontada por encontrar já
formatados os desafios políticos e morais. As tuas histórias davam uma
genealogia, uma legitimidade aos meus vagidos políticos e até me haviam dotado
de uma certa aura junto do sexo feminino. Fora-me em tudo vantajosa a tua
mudança.
Percebia de repente que sempre me mentiras, que
afinal estavas do outro lado e que a
tua actividade social não passava de fachada, de espionagem ao serviço de
interesses ínvios. Dançavas simplesmente consoante a maré, um vira-casacas.
Se o meu pai não resolvesse prontamente a questão
das armas, eu mesmo te denunciaria, prometi-me nessa noite.
Contudo, não fui capaz, e não me perdoei pela
fraqueza. Estive dez dias sem te ver e quando te enfrentei, perguntei-te de
chofre:
- O que é que te deu na gana, para espetares uma
faca na avó?
Pigarreaste, precisando:
- Foi uma grosa… uma grosa…- Depois observaste - Um bêbado de mau vinho é um homem que cai do seu próprio
galho! Um bêbado de mau vinho é um homem que cai do seu próprio galho!...-
Repetiste, uma meia dúzia de vezes antes de justificares - O coração da tua avó
era mais seco que a minha pedra de amolar e quis ver se com a grosa ele soltava
faísca...
Enquanto pestanejavas, emborquei um
cálice de aguardente, o meu trigésimo terceiro cálice de aguardante, de que me
servi sem que tu me ousasses impedir; prosseguias:
-
Não é das coisas de que me orgulhe, mas em tempos de miséria ou temos em casa o
amor da mulher ou ficamos mais pobres… se até o pão ázimo nos tiram não sobra
mais nada, percebes? Quando aos 60 me virei para Deus foi como se estivesse a
trepar de novo ao galho onde podia ser um homem. Antes era mau, um homem
soberbo, a quem só alegrava a bebedeira do sangue e não a de Deus...
-
Merda para Deus… - Atirei-lhe e saí.
3
O pastor pôs um ar de extremo compungimento e
declarou:
- É com imenso pesar que tenho de lhe comunicar
que a nossa igreja não pode continuar a manter o seu avô no nosso asilo… como
sabe é uma prática nossa e temos seguido esta prática sem desfalecimento, mas
neste caso não podemos transigir…
- Sim, mas porque me chamaram a mim? Tenho irmãos
solteiros, primos, que poderiam acolhê-lo mais facilmente… ou que falam com
ele. Mais próximos dele. Eu não o vejo há 15 anos e não temos contacto…
Bateu com o indicador no vidro do relógio, no
pulso, antes de o levar ao ouvido:
- Desculpe, estas quinquilharias de agora… -
Pousou o pulso vagarosamente sobre o tampo da mesa, tapou a montra do relógio
com a outra mão e olhou-me com gravidade - O seu avô só quer falar consigo, diz
que tem uma coisa para lhe dizer que só o senhor pode entender…
- Hum… muito me surpreende. Mas, diga-me, o que é
que ele fez para se tornar impraticável a sua permanência no asilo…
- O seu avô nos últimos dez anos foi um grande
pastor. Era um homem de fé e que achou o seu fogo na palavra…
- Está a falar do meu avô? – Perguntei incrédulo.
- Sim, sim, sabe, nós nunca conhecemos
inteiramente as pessoas que estão ao nosso lado. E como estiveram tão
afastados, é compreensível que lhe pareça estranha a mudança que houve nele…
Ironizei:
- Mudança? Quais delas?
Ele continuou, impassível:
- Eu não conheço bem o passado do seu avô, digamos
que provavelmente havia ali muitos nós que precisavam de ser desatados e que no
seu contacto com a Palavra do Senhor diluíram deixando o canal liberto para a
Palavra Viva… era um encanto ouvir o seu avô numa prelecção. Parecia que as
palavras lhe chegavam ditadas directamente… - E apontou para o céu…
- Portanto, digamos, ele desatou a sublimar erros
passados, erros ou horrores…
- Talvez seja como diz, mas o seu avô até há um
ano era quase um santo… e ajudou muita gente, com a sua Paixão e a sua
persuasão…
- Que houve de novo?
- Bom, o Pastor Manuel Domingos é um homem de
muita idade… fez este ano 88 anos.
- E manteve todo esse fogo como diz, essa
virtualidade de raciocínio até o ano passado?
- Sim… e podemos dizer que algum raciocínio ainda
se mantém…
- Não percebo então.
- O ano passado, o seu avô teve um AVC.
- Não sabia, estava no Brasil.
- Uma coisa pouca, mas tinha falhas de memória,
fugiam-lhe as palavras, deixou de se conseguir concentrar muito tempo e, sobretudo…
- Diga.
- Perdeu o chip
da moral…
- O chip?
- Temos de nos adaptar aos tempos… O Irmão Manuel
Domingos foi recolhido no nosso asilo e após dois meses de tratamentos e de
descanso começou a receber visitas. Não foi logo, mas as coisas há três meses que
perderam completamente o controle…
- Continuo sem entender…
- Como era um elemento muito querido da nossa
igreja, o Pastor Manuel Domingos recebia muitas visitas dos nossos irmãos de
culto… e das irmãs, velhas e novas…
- Hum, hum…
- Há três semanas, uma fiel nossa, Joana Emília,
uma jovem acima de qualquer suspeita moral, veio queixar-se de que o seu avô
lhe pediu para ela lhe mexer no sexo enquanto ele lhe lia os salmos de Salomão…
No dia seguinte apareceu nu, em erecção, e a blasfemar, à irmã Dolores, a quem
quis violar… tem sido assim, sem descanso, e até à minha mulher já pediu para
lhe fazer sexo oral…
Brinquei:
- Deixou de sublimar, portanto… - A perplexidade
moveu-lhe a maçã de Adão, como se fosse uma bailarina em pontas. Continuei,
mudando de registo: - Compreendo. Não sei ainda como vamos resolver este caso,
tenho de falar com os meus irmãos primeiros… mas presumo que algo precisa de
ser feito nos próximos dias…- Anuiu com a cabeça - Assim será feito. Posso
então vê-lo? Quero saber o que ele me tem para dizer.
A juba não tinha perdido um cabelo. Estava apenas
um pouco mais baça como o pêlo branco de gato viciado em nicotina. No rosto, o
pergaminho redobrara as estrias e o nariz, para surpresa minha, estava mais
afilado e curvo.
Não me viu logo. Sentado na cama, que me parecia
um catre, olhava pela janela. Acima da cabeceira havia um crucifico com a cruz
forrada em veludo vermelho.
Quando deu por mim não se sobressaltou, como se eu
apenas lhe tivesse ido à rua buscar o totoloto. Olhou-me apenas demoradamente,
sem mudar a expressão, fazendo-me sentir examinado milímetro a milímetro. Só
depois sussurrou:
- Toninho… - E puxou a minha mão esquerda para o
meio das suas. Só me restou sentar-me ao seu lado.
Fixou-me nos olhos, o azul estanhado das suas íris
continuava penetrante. E então os seus lábios mexeram-me e sussurraram:
- Naquele caso da tua avó, Deus é quem segurava a
faca…
- Olhe, então merda para si… - respondi.
Arranquei-lhe a mão da mão e saí.