Uma fomeca
das antigas,
ó pátria
amada*,
das que
não se desvia na lembrança
de sazonais
papos de anjo
e voeja
omnipresente,
esfoliadora, irritante,
como as
moscas verdes de pança mole,
que não se enxotam
e têm velcro
nas patas
e afanados bancários,
polícias e
juízes a melar no zumbido;
uma fomeca
das antigas,
das que sega
a libido
nas crianças e se amplia
só com
ilhas furadas,
mega-
-terço
onde os humanos são gradientes
ultrapassados;
uma fomeca
das antigas,
maravilhoso
povo moçambicano*,
agarrada
como visco às cambalhotas
que derrubam
a verticalidade do homem
acasalando-o
com as orquídeas
rasgadas
do
canteiro onde o empreiteiro
- mamã,
foi engano! -
derramou
a brita;
uma fomeca
das antigas,
capaz de inocular
a
matacanha na palma mirrada de deus
e de
fazer com a ialma
e o pito
das pitas
uma exaurida
caldeirada de línguas
até a
palavra, fantasma que encanou
os
polvorosos caminhos do inferno,
corar de
vergonha,
foi essa
a fome
que atou
Samuel Enchido Ntundo
fugido da
pastorícia em Magude
para pedir esmola em Maputo,
às grades
do Ministério do Trabalho
onde
exibe aos transeuntes o seu
olhar marasmado…
parece um cão, tem os olhos inchados, reboludos
daqueles pequeninos… os malteses…
explicou
a votiva Cândida dos Recursos Humanos
faz cá uma impressão…
foi essa
a fome que escarificou Samuel
ao descobrir
que a
árvore de Natal é de plástico
e que
nestas festas
- triste
melódica
que o
vento intercepta numa janela –
enquanto
os políticos
contam morto
em
congresso no bojo do elefante** -,
ele não vai ter
gafanhoto.
*expressões que
fazem parte da retórica do presidente Guebuza
** neste
fim-de-semana terá lugar, na Gorongosa, o Congresso da Renamo, onde se
sancionará a resposta da direcção do Partido ao resultado oficial das eleições
de Outubro
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