Eis uma bela manhã:
reler das
sete às oito e meia a Mãe Coragem do
Brecht, rindo-me às gargalhadas com a ladinice inicial da senhora, e depois observar
a Jade a colocar a Amy Winehouse no dvd e a pôr-se a dançar, com tal energia
que me contagia, acabando por aderir à pista de dança.
Dez minutos
de cabriolas, e desenhamos passos e figuras que deveriam ser fotografados para
vender aos coreógrafos mais desinspirados. Na sequência deste surto de
polinização interior, descida à rua para comprar um jornal e beber um café e
entreter-me na esplanada com o Espinoza de Deleuze e o seu apetite para a alegria.
E nem é
preciso esforçar-me para persistir no
meu ser: estou para o conatus
como o iogurte para a sua embalagem. Teso, mas danadamente mole, perdão, feliz.
Pelo menos, esta manhã.
No ponto
para chegar a casa e escrever o conto que me fatiga as sinapses há três ou
quatro dias.
É bom chegar
aos 54 anos e sentir que só tenho males concretos, males de dinheiro, que, no
mais tendo a realizar-me pois já não
vivo do acaso dos encontros e cheguei a uma relativa unidade que me alimenta
e estrutura, sem necessidade de mais transições
ou passagens, apesar de me manter
num estado mais líquido – ou seja, fluído e sensível às flutuações da luz – do que
sólido (fechado em si/mim).
Sou
finalmente um “palerma em aberto”.
A beatitude? Ter-me esquecido do jornal
no café, sem o ter aberto.
PS – Julgo que
o Espinoza sabia o português suficiente para não ter ruborizado quando inventou
o conceito de conatus. Eis a
liberdade.
E pelos terceiro
eis me fico.
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