quarta-feira, 15 de maio de 2013

UM PALERMA EM ABERTO: O CONATUS DE ESPINOZA

                               eu com a minha instrutura de dança, ainda no vibrato da música


Eis uma bela manhã:

reler das sete às oito e meia a Mãe Coragem do Brecht, rindo-me às gargalhadas com a ladinice inicial da senhora, e depois observar a Jade a colocar a Amy Winehouse no dvd e a pôr-se a dançar, com tal energia que me contagia, acabando por aderir à pista de dança.

Dez minutos de cabriolas, e desenhamos passos e figuras que deveriam ser fotografados para vender aos coreógrafos mais desinspirados. Na sequência deste surto de polinização interior, descida à rua para comprar um jornal e beber um café e entreter-me na esplanada com o Espinoza de Deleuze e o seu apetite para a alegria.

E nem é preciso esforçar-me para persistir no meu ser: estou para o conatus como o iogurte para a sua embalagem. Teso, mas danadamente mole, perdão, feliz. Pelo menos, esta manhã.

No ponto para chegar a casa e escrever o conto que me fatiga as sinapses há três ou quatro dias.

É bom chegar aos 54 anos e sentir que só tenho males concretos, males de dinheiro, que, no mais tendo a realizar-me pois já não vivo do acaso dos encontros e cheguei a uma relativa unidade que me alimenta e estrutura, sem necessidade de mais transições ou passagens, apesar de me manter num estado mais líquido – ou seja, fluído e sensível às flutuações da luz – do que sólido (fechado em si/mim).

Sou finalmente um “palerma em aberto”.

A beatitude? Ter-me esquecido do jornal no café, sem o ter aberto.

PS – Julgo que o Espinoza sabia o português suficiente para não ter ruborizado quando inventou o conceito de conatus. Eis a liberdade.

E pelos terceiro eis me fico.

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