Se um dia fizesse uma antologia
de tudo o que publiquei escolheria esta imagem de Saul Leiter para a capa: um
homem que se afasta com uma história atrás de si que lhe enclavinha os dedos,
derrotas que não lhe impedem que avance para o fundo, na direcção dos
estorninhos. Está frio mas a sua alma não deixa de andar ao relento. É tudo o
que me basta como imagem, e três ou quatro talos de alegria no cerne, que
florescem quando a mão larga o livro e se aquece na macia redondez do bule.
Nunca saberei explicar
como isto me ensina que o homem só acontece quando rompe os padrões. Ou como a
beleza se intromete quando algo deslaça a geometria dos fundos.
Eis a beleza do mundo,
assanhada pela placidez do múltiplo… Pound adoraria esta condensação.
A mais dolorida questão da existência é a de saber se coincidimos nos fantasmas. Imaginemos que não e somos como um teclado desconjuntado, num friável desconcerto. Mas, quando sincronizamos, um vulto entra-nos na pele, toma calor, e acorda nos olhos a crença que um pequeno lume tem no nevoeiro…
Que fosse esta última imagem
vista por Deus no processo do Juízo Final: o frágil esplendor da neve nos
salvaria!
No meio do caminho tinha uma malha,
havia uma malha
nunca me esquecerei desse acontecimento
a meio de minhas retinas tão fatigadas,
atravessou-se uma malha no meio do caminho.
Ele esperava-nos no bar do Elvis
mas a malha interpôs-se no meio do caminho
a meio do caminho tinha uma malha
que me fez voltar atrás quando a miúda disse
mãe, parece um olhinho do meu hamster
No meio do caminho tinha uma malha,
havia uma malha
nunca me esquecerei desse acontecimento
a meio de minhas retinas tão fatigadas,
atravessou-se uma malha no meio do caminho.
Ele esperava-nos no bar do Elvis
mas a malha interpôs-se no meio do caminho
a meio do caminho tinha uma malha
que me fez voltar atrás quando a miúda disse
mãe, parece um olhinho do meu hamster
a diferença pode ser bela.
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