quinta-feira, 26 de julho de 2018

JE SUIS OXANA SCHACHKO



JE SUIS OXANA SCHACHKO
Tinha o nome de uma princesa maia, de leve
reminiscência ucraniana: Oxana Shachko.
Nos seus olhos havia watts
para abastecer os luzeiros, da terra ao céu
e volta, embora lhe fosse triste
o sorriso. Aos doze anos cismou entregar-se
a um convento e pintar ícones
como André Rublev. Aos vinte e dois,
num idêntico fervor místico,
desnudava os seios e gritava
em lugares públicos palavras de ordem
contra a violência falocrática e
os esbirros de Putin. Era sua
a cara da República e admita-se finalmente
que a sua beleza foi quem tentou
a serpente no Paraíso, insistir
no contrário é pura ideologia.
Aliava à voz macia a decisão
de uma mártir e, benza-a
Deus, possuía uma fotogenia
que a fazia tremendamente única, mesmo
se a acompanhasse pangolim.
Por isso bebo há dois dias inconsolável,
ensaiava uma declaração e
o Edgar Pera gravar-nos-ia a boda.
Adorava enforcar a corda
com que se suicidou, aos trinta e um anos,
a diva do Je suis Femen. E nem sequer
falo do esplendor da luz na sua pele
ou das suas pinturas da Virgem
porque, bárbaro como sou,
fico embargado.

 

2 comentários: