Uma morte de empréstimo seria o crime perfeito que o nosso consciente
organizaria, sendo o papel da poesia desenganar-nos, resgatar-nos das falsas
vias e motivar-nos a enfrentar o cerne dessa experiência indelegável.
Porque, apesar de não haver saída, a dignidade de compor a meia diante do
pelotão de fuzilamento distingue-nos da massa, torna nosso esse momento, impõe ao anónimo estupor da violência a
presença dum rosto, o peso da nossa vigília, como quem entra por decisão morte
dentro e não por engano dela.
Mas este gesto só nos habilita se executarmos o grito até ao fim, em vez de
fugirmos à dor da sua trepanação.
Pequenos Projectos para Adorno das
Inteligências Subtis, o belo
título que fui pescar num ensaio de João Cabral de Melo Neto sobre “composição
poética”, uma daquelas reflexões seminais que lida na devida altura nos faria
poupar décadas de equívocos e nos mostraria como é improfícua e patética a guerra
entre gerações, não mais que um momentâneo ardil para nos afastar do essencial.
Neste ensaio, ademais, levanta-se uma distinção que me parece crucial, a de
que existe uma poesia que se lê mais com
distracção de que com a atenção.
Não preciso de dizer que estou do lado do
cultivo da atenção.
Está dito.
É espantoso como se têm multiplicado o número de séries televisivas de
sucesso que andam em torno do trânsito e contágio entre mortos e vivos: Contacto, ou Médium, por exemplo. Para já não falar da verdadeira obsessão com
vampiros ou zombies que se manifesta a qualquer exercício de zapping.
Não percebo como ainda se diz que a civilização ocidental padece de um
excessivo racionalismo.
Há que livrar Descartes da calúnia.
Detenha-mo-nos nas circunstâncias:
cinco a um levou Espanha da Holanda. A Espanha não caiu de pé, caiu deitada.
Estava como eu, de borco, que não vi o jogo. “Eles” também não, pelos vistos. Explicou
um antigo guarda-redes que o Casillas não estava presente no jogo, que isso se
via pela linguagem corporal. A
inteligência às vezes também habita no futebol. O Mourinho já tinha visto isto,
as “ausências” do inquestionável guarda-redes. Del Bosque não, até hoje.
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