Antes que te
esqueças não esqueças
De
me ensinar a deixar de explorar os mortos
Por macios que
nos pareçam,
Ou a minha compaixão
os amotine.
E antes a usar a
minha própria queda
Emprestando-lhe
a asa de Durer
Se no perímetro
a dicção não se me ajustar
À ocasião, ao
trôpego acto
De capinar o
coração,
Até que liberto
de espelhos e fantasmas
Possa rufar sem
eco. Sim, sê
Tu o meu Marteau
sans Maitre,
Ou sei lá o que
digo, sê a sede
Na fonte que nos
sangra
E afinca ainda o
dente à sombra,
Dispensando o
baixo custo da métrica estrita,
Que para nós a
morte é o luxo
Último de nos
negarmos
A fazer da
memória oração
Para sentirmos
até à derradeira batida
Como ritmamos o
mistério
Do espaço – o único
vitral
Que nos situou e
visitámos,
Lerdos e aflitos
como a corola
Que abriu na
mais despenhada noite,
Pelo ilimitado
isolamento
Em que culmina a
alegria.
Antes que te
esqueças não esqueças
De me avisar que
o céu também se enruga
E que o gesso de
muitas décadas
De avícola
existência
Às vezes degenera
em alarido de megeras,
Em vaidade
megalocéfala, engodada
Pela promessa de
que em letra de Mefistóteles
Se faça ninho.
Antes que te esqueças
Não esqueças de
me colocar diante dos olhos
Os grampos, as pinças,
o bisturi com que se maneja
O vazio sob a
pele e os astros nas veias,
Essas amálgamas
de escória e fantasmas
Que
antecipadamente cozinham no sangue
O vil perdão da
nossa morte. Afundar-se
Na própria
profecia é o deslustre
Do diamante
desfeito em carvão de coque
Ou o mar que
respira na incandescente salamandra?
Antes que te
esqueças não esqueças
De me penetrar
com o teu turbilhão
Até que o nome
fie mais pus e sujo
De luz,
renhidamente, me aperte a garganta.
12 Junho de 2014
Sempre antes que me ponho a cama, insta-me a voz sonâmbula da sua poesia visitar.
ResponderEliminar