para a Doris, In memorian
e para a
Leonardo, sua amiga
Traduzir a vida rente ao texto
como a lâmina rasando a pele
no escanhoado do tempo.
Alguém morre alguém nasce,
o mesmo sopé?
O peixe lava nos olhos o afogado?
É sempre Deus quem se vela
na vigília do morto.
Também eu vi as cascatas
de costas e sei que as nossas vidas
se usam para a fixação
do azoto nos solos.
Mas às vezes apetece dizer: merda,
estender a esteira e esquecer a morte
lembrando os que nela se afadigam.
Contrariar, em suma, como as vagens
com uma cobertura felpuda.
Perder uma amiga e descobrir
que um novo comprimento de onda
abre um afluente no rio que nos navega.
Tudo se extenua menos o cansaço de si mesmo.
Que nenhum sino tanja a noite!
Como somos um sono.
ResponderEliminarBelíssima honenagem.
Beijo.
*errata* : homenagem.
ResponderEliminarBrilhante, António Cabrita. Há pessoas e memórias que não se apagam com nenhuma palavra. Nem com a ausência que não queremos. Abraço.
ResponderEliminarLília Tavares