Escreveu-me
Ozo, o meu amigo mais herético. Está em Hong Kong. Enviou-me um novo poema, que
corre em baixo
1
Pela
invasão capilar
instalei-me
nos versos.
Sobre
sob
a derme
de um
deus careca
instalei-me
nos versos.
2
O coração
disparado
pisoteia-lhe
a flor.
Merda
para as estrelas
perfumadas
do Mallarmé
pensa, A
mim
é o
coração disparado
quem
digita inteiro
o som
da morte.
3
Amplio-me.
Sou a
última gota
no teu
corpo
de vinho.
Aí se
turva
a linha,
na
acidulada rosácea´
do teu
ânus
inflecte
o horizonte
para
dentro.
E aí nada
se deslassa,
hélas!
4
Olhando
de viés
despejei-lhe
o chumbo
nas
tripas.
Não custa
abandonar
cidades
que só
têm meandros
e
perfídias.
A caixa estava
quase
vazia,
entre mim
e a vida
não há
uma ganza
há uma
gaze.
5
Já não
sabe estar só.
Em
estando sozinho
sente-se
em ressaca.
6
Pode uma
vida agastar-se
sem
reboco,
os fios
de electricidade
bamboleantes
ao vento;
o tijolo
descontínuo,
pardo?
A delida
cinza
das
gaivotas
satura o
ar.
A boca
seca,
assoreada.
7
Não faças
como os antigos,
não te
assoes
ao poema.
Não lhe
imponhas a constipação
de
Pessoa, nem a tua,
tácita.
O único
drama
com a
metafísica
é que não
se coaduna
com a
exaltação da raposa
quando
trincha
a perdiz.
Não
existe o azul,
simplesmente
o para lá
dos
cipestres.
8
Dar à
identidade
uma pele
de galinha?
Há que
recuar.
A minha
mãe pariu-me
com
táximetro.
Juro não
cair noutra.
9
Que as
estrelas que latejam
no meu
crânio
lá se
mantenham depois da enxaqueca!
És ambicioso, pá!
10 (releitura de Lispector)
E a
Clarice
sem mover
raciocínios
nem
guindastes
tirava um
macaquito do nariz
e pensava
distraidamente
no que um
querubim
tinha
segredado
ao
S.Pedro:
a sua
tremenda saudadade
de
morangos.
11
Rasuras,
reenxertos:
extravagando.
Cidades
em divisas:
uma folha
de jornal
que o
vento desdobra
aos
baldões.
Desafeita
glande
Adormecida.
12
Numa
amorável cautela
saiu-me o
verso de um poeta sueco
dos mais
caros:
“Nunca
houve
degelos
Iníquos!”
Gostei. Mt.
ResponderEliminarInf
vim pra dizer que não sei o que dizer! no facebook não me respondes se os gatinhos saíram a cara da máquina... então venho ler poemas do mais! <3 beijo, Cabra!
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