Portrait of a Romantic, foto de Alice W R
Shirley Temple, a actriz que soube
retirar-se
antes de se tornar uma criança
malsã
e de Hollywood a clonar como a
febre dos fenos,
feneceu hoje, fanada pedra de
isqueiro.
Lembro-me de a ver sapatear a
preto
e branco e dos olhos envidraçados
da minha mãe, assim que no
pequeno ecrã
acudiam os seus cachos de
caracóis
que para dona Isabel seriam
dourados.
Ele via na pequena estrela
americana a infância
que lhe foi roubada, e hoje sobre
a campa
de minha mãe florescerão os
miosótis.
Vou compondo este poema estrada
fora
enquanto a tempestade me segue há
duas horas
com maligna perseverança e o
coração
se me aclimata, diferido,
melancólico.
As colunas, depois dum festival
de didjeridu,
que me fez vibrar no sangue
aborígena
a pulsação das estrelas, derramam
agora
Portrait of a romantic, de John Surman.
O passado é o futuro que me
esculpe,
na estrada que as sombras do
presente incandescem.
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